segunda-feira, 25 de abril de 2011

A TETA ASSUSTADA / O LEITE DA AMARGURA (La Teta Asustada – Peru, 2009)

Direção: Claudia Llosa

            A produção peruana O leite da amargura ou A teta assustada alcançou um feito inédito para seu país ao conquistar uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010. O fato de ter perdido o prêmio para uma produção argentina (O segredo de seus olhos) demonstra a valorização que o cinema latino-americano vem recebendo nos festivais e circuitos internacionais. No filme de Claudia Llosa, bem como em vários filmes de nossa região, a questão histórica da ditadura e suas conseqüências no desenvolvimento social das gerações seguintes têm um papel fundamental para a narrativa. Fausta é uma jovem cuja mãe foi violentada no período ditatorial, recebendo, através do leite materno, o medo proveniente daquela violência que a impede de se relacionar socialmente de uma forma normal. Os moradores da região, incluindo seu tio, denominam essa síndrome de a teta assustada, desacreditando no diagnóstico de um médico que afirma que a tal doença não passa de um mito.
            Além de ser um registro curioso sobre o mal que as ditaduras exerceram sobre seus países, O leite da amargura também se constitui como um bom estudo das conseqüências impostas por uma cultura baseada no medo a qual pode ser responsável por ações impensadas. Provavelmente criada sob o trauma de sua mãe – algo testemunhado logo na música que ela canta em seu leito de morte na primeira cena do filme – Fausta tem uma reviravolta em sua vida, uma vez que perde seu único porto seguro, representado pela figura materna. Seu medo não é um simples medo de escuro, a jovem tem dificuldades muito claras de se relacionar com as pessoas a sua volta – em especial, os homens – e tal fato acaba se tornando o grande conflito que enfrenta na tentativa de levar o corpo de sua mãe a seu antigo povoado, onde gostaria de enterrá-la. Para isso, ela acaba tendo que arranjar um emprego a fim de juntar o dinheiro necessário para esse transporte, algo que se torna complexo, já que Fausta não consegue nem caminhar na rua sem ter alguém de confiança a sua frente, servindo de referência.
            Outra questão que surge diante da jovem é a forma que encontrou como ideal para protegê-la, usando como fonte, claro, uma vizinha que vivenciou o período de abusos sexuais junto com sua mãe. Para Fausta só o asco detém os asquerosos, algo que não é tão eficaz – visto a cantada de extremo mau gosto que ela recebe durante uma cerimônia pré-nupcial de sua prima – além de ser claramente prejudicial a sua saúde.

            Apesar de trazer algumas questões interessantes para discussão, O leite da amargura parece exprimir dificuldades para desenvolvê-las e, ainda que conte com alguns planos interessantes como o “x” que separa Fausta de seu tio, eles não parecem acrescentar grande visibilidade à história. Entretanto vale ressaltar que, para um cinema pouco difundido mundo afora, o Peru conseguiu realizar um feito ótimo para o cinema latino-americano ao vencer o Urso de Ouro um ano após o Brasil conquistá-lo com Tropa de Elite, confirmando a ascensão da América Latina diante do cinema internacional.

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