sábado, 10 de maio de 2014

A ESQUINA

Saltou do ônibus à esquina e contava menos de trinta. Sentou-se ao meio-fio com toda sua mocidade marota contrastada por um ar de maturidade que fazia questão em exalar. Em meio a tantos transeuntes e automóveis estranhos, reconheceu-se como parte integrante da esquina.

Todavia sua condição não era fruto do mero instante. Era a memória com toda sua lealdade traíra. E além, pois sabia – embora não lembrasse – que tinha uma relação placentária com a esquina e sempre que sentia-se aflito, recorria a ela como recorro à escrita.

Somos um só: personagem, narrador e escrita.

Diria mais: somos todos esquina.


Mario Chris

NÃO SEI BRINCAR

Já tomei vodka, hoje tomo mescalina
Tenho todos os sentidos realçados menos um, o da razão.
E se me chamam imoral,
foda-se o padrão!
Uns têm leveza, outros não.
Já perdi chave e documentos
Agora perco a noção.

No carnaval das sensações

sinto como ninguém o ritmo do meu coração.
E se o japonês traz haxixe,
entra na roda, meu irmão.
Pois na criatividade sem graça de hoje
só nos resta pandeiro e violão.
Cantemos, então...

Mario Chris