sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amusing Ourselves to Death

Esta semana ganhei um presentinho postado diretamente de Londres. Maninha enviou-me um livro que me interessei em ler, mas não encontrava traduzido no Brasil. Gritei uma palavrinha de consolo (f***-se), como bem me ensinou meu saudoso professor de geografia do ensino médio, e assumi o desafio de lê-lo em inglês. Comecei a leitura hoje e ela apresenta-se de forma tranquila e instigante. Não resisti e traduzi a introdução, cujo título é Adiante*. O livro é de autoria do já falecido Professor de Comunicação, Artes e Ciências da Universidade de Nova Iorque, Neil Postman (1931-2003) e é intitulado Amusing Ourselves to Death**.

Mantivemos nossos olhos em 1984. Quando o ano chegou e a profecia não, Americanos atenciosos cantaram baixinho em louvor próprio. As raízes da democracia liberal tinham se firmado. Onde quer que o terror tenha acontecido, nós, ao menos, não tínhamos sido visitados pelo pesadelo Orwelliano***.
Todavia esquecemo-nos que, juntamente com a visão obscura de Orwell, houve outra – ligeiramente mais velha, um pouco menos conhecida, igualmente arrepiante: Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Ao contrário do senso comum e, até mesmo, dos mais instruídos, Huxley e Orwell não profetizaram a mesma coisa. Orwell advertiu que seríamos dominados por uma opressão imposta externamente. Entretanto, na visão de Huxley, nenhum Big Brother é necessário para privar as pessoas de sua autonomia, maturidade e história. Como ele observou, as pessoas passarão a amar sua opressão, adorar as tecnologias que desfazem suas capacidades de pensar.
O que Orwell temia eram aqueles os quais baniriam os livros. O que Huxley temia era o fato de que não haveria necessidade de banir livros, pois não haveria quem quisesse lê-los. Orwell temia aqueles que nos privariam de informação. Huxley temia aqueles que nos dariam tanta informação que nos reduziriam à passividade e ao egoísmo. Orwell temia que a verdade fosse escondida de nós. Huxley temia que a verdade fosse submersa em um mar de irrelevância. Orwell temia que nos tornássemos uma cultura enclausurada. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura insignificante, preocupada com mecanismos escapistas****. Como Huxley observou em Regresso ao Admirável Mundo Novo, os defensores da liberdade civil e os racionalistas que estão sempre em estado de alerta para se oporem à tirania “falharam em levar em conta o apetite quase infinito do homem por distração”. Em 1984, Huxley acrescentou, pessoas são controladas por uma dor imposta. Em Admirável mundo novo, elas são controladas por um prazer imposto. Em suma, Orwell temia que aquilo que odiamos nos destruiria. Huxley temia que aquilo que amamos nos destruiria.
Este livro é sobre a possibilidade de que Huxley, e não Orwell, estava certo.


O livro é altamente recomendável para quem curte qualquer forma de estudo sobre literatura, em especial aquela chamada de distópica*****, além de estudos sobre sociedade, comunicação, cultura e pós-modernidade.

*Forward
**Algo como Divertindo-nos à morte
***Referência ao escritor inglês George Orwell (1903 – 1950), autor de 1984 e Revolução dos Bichos
****No texto original, o autor diz: “preoccupied with some equivalent of the feelies, the orgy porgy, and the centrifugal bumblepuppy”, fazendo referência a terminologias utilizadas por Aldus Huxley em Admirável Mundo Novo. Feelies refere-se a um tipo de filme que estimula sensações físicas (fonte: Yahoo Answers), Orgy Porgy refere-se a reuniões nas quais as pessoas fazem uso de drogas, além de fazerem sexo (fonte: Urban Dictionary), Centrifugal Bumblepuppyrefere-se a um tipo de jogo, de caráter consumista, jogado pelas crianças (fonte: Urban Dictionay). Em todos os casos, tais elementos referem-se a mecanismos que afastam as pessoas da realidade, caracterizando-os como escapistas.
*****Distopia refere-se "ao pensamento, a filosofia, ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utopia ou promove a vivência em uma 'utopia negativa'" (fonte: Wikipédia). Dentre as obras literárias de caráter distópico, destacam-se: Admirável mundo novo, 1984, Farenheit 451 e O senhor das moscas. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

É tanta vodka no mundo
que nada mais faz sentido
O mundo é mundo
e nós somos nada
Vagabundos imundos
vestindo Burberry e Prada.


Mario Chris

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Poema sem título

Já dizia o poeta
grande sábio, grande amigo
de palavras intercaladas de sentimento
sem sentido, sem contexto:
- Poema, avante, Poema,
Nada tema!
Somos um só, eu no olho da tormenta
você na ponta de minha pena.

Mario Chris