domingo, 7 de setembro de 2014

AS CRIANÇAS

           As crianças exercem sua liberdade nas ruas quando, soltas das amarras das mãos dos adultos, podem caminhar livres pela cidade. Todavia um limite é posto – até para que se exerça o poder hierárquico da instituição familiar. Esse limite é a esquina, para além da qual não se deve ir.

A esquina é um território dominado pelos adultos e, sendo assim, exercem seu direito de criar todas as formas de narrativa cuja veracidade é incontestável – lembremos da hierarquia.

A esquina é perigosa! Só pode ir até a esquina!

Mas a infância não deixa de ser o campo da contestação e explorar a esquina torna-se necessidade e se a repressão insistir em se impor, a resposta malcriada fala por si só.

Vai ver se eu estou lá na esquina!
Mario Chris
Paris, 24/06/2014

O MENDIGO

            Cansado do excesso de informação, o mendigo destoa do restante e relaxa na esquina. Centenas de passos o cercam, o ignoram e – de forma naturalizada – o condenam. Entretanto ninguém entende a cidade como o mendigo e naquele curto espaço de tempo, descansando diante da esquina, observa o que ninguém mais nota. A cidade.

Faço parte disso tudo, pensa. Entende que a cidade sem mendigo ou mendigo sem cidade é como esquina sem dúvidas. Para que lado ir?

Não existe lado certo – se é o certo que tendemos a procurar. Cada canto da esquina é um novo mundo esperando por ser descoberto. Mas a ninguém interessa tal premissa. Mas ao mendigo interessa.
Levanta e segue pela esquina. Por qual canto? Não interessa.
Mario Chris

Amsterdã, 23/06/2014