terça-feira, 5 de abril de 2011

BARRY LYNDON (Barry Lyndon - EUA, 1975)

Direção: Stanley Kubrick

            É sempre uma responsabilidade muito grande dissertar sobre os grandes mestres da sétima arte e, em se tratando de Kubrick, a responsabilidade triplica, pois se existiu um cineasta preocupado com o formato audiovisual e com a sua aplicação prática em sua obra, esse cineasta chamava-se Stanley Kubrick. Com uma filmografia não muito extensa – dirigiu dezesseis filmes em quarenta e oito anos de trabalho como diretor – mas extremamente variada, esse artista apresentou ao mundo algumas obras-primas do quilate de um Laranja Mecânica, ou de um 2001: uma odisséia no espaço. Kubrick era, acima de tudo, um perfeccionista cujo esforço incalculável utilizava sem cerimônias, repetindo cenas quantas vezes fossem necessárias até atender ao resultado desejado. E não seria diferente com o épico Barry Lyndon, o qual se constitui como um delírio visual.
As belíssimas direção de arte, figurino, maquiagem e fotografia combinadas com planos cuidadosamente compostos dão o tom imagético desse drama, que acompanha a ascensão e queda do personagem título. Kubrick foi tão perfeito na reconstituição do século XVIII que precisou utilizar uma lente especial para determinadas tomadas, uma vez que se recusou a utilizar luzes artificiais nas cenas noturnas, iluminando-as apenas com luz de velas. Entretanto, o grande mérito de Barry Lyndon está no fato de representar um incrível estudo de personagem, tanto nos acontecimentos que surgem diante dele quanto no comportamento que assume para lidar com eles. Barry é um jovem irlandês que, após vencer um duelo forjado, vê-se obrigado a fugir para a cidade, onde inicia uma jornada pela Europa entre guerras e serviços até alcançar a tão almejada posição junto à aristocracia. Mais que um desejo, a nobreza acaba por se tornar uma questão de honra para Redmond Barry desde o momento em que percebe que seu primeiro amor busca na riqueza e no status a felicidade que nunca encontraria em um homem comum como ele. Além disso, Barry percebe como o dinheiro molda o respeito e as relações que o cercam, tornando muito mais atraente um título oferecido pela realeza. E diante desse fato, o protagonista não abre mão de utilizar meios condenáveis em sua escalada rumo ao sucesso, o qual, inclusive, é alcançado através de um casamento com uma recém-viúva, mãe de uma criança que, com o tempo, se torna a personificação de todos os antagonismos que surgem ao seu redor. E, claro, sua queda acaba se tornando justificada pela cegueira imposta a ele pelo dinheiro e, por conseqüência, pela sensação de poder – é interessante notar como a natureza de Lyndon não é baseada na maldade, todavia seu objetivo maior acaba por atropelar sua conduta ética, levando-o a atitudes das quais em alguns momentos sente-se arrependido.
Barry Lyndon acaba por se tornar uma forte crítica à corrupção dos homens e à segregação social – elementos tão vivos em nossa sociedade. Apesar de existirem homens ricos, pobres, bonitos, feios, fortes ou fracos, não existe verdade mais incontestável de que, em algum momento, todos terminam iguais. Essa é a grande mensagem deixada pelo mestre Kubrick nas três horas de duração desse épico cuja trilha sonora – não posso deixar de comentar uma das grandes marcas kubrickianas – recheada de clássicos de grandes compositores como Bach, Haendel e Mozart, dão um tom emocional particular a um trabalho tão majestoso.

Nenhum comentário: