quinta-feira, 7 de abril de 2011

EU MATEI MINHA MÃE (J'ai tué ma mère – Canadá, 2009)

Direção: Xavier Dolan

            Candidato canadense ao Oscar do ano passado, Eu matei minha mãe não conseguiu sua indicação à categoria de melhor filme estrangeiro, o que é uma pena, tendo em vista que sua intensidade, somada às belas imagens que apreciamos no desenrolar da narrativa, o transformam em um belo drama de caráter psicológico. Roteirizado, dirigido, produzido e protagonizado pelo jovem Xavier Dolan, o longa nos coloca diante de uma perturbadora relação entre mãe e filho cuja construção nunca apela para o maniqueísmo, preferindo nos apresentar os conflitos que rodeiam esses personagens, os quais, de alguma forma, explicam o comportamento deles e suas opiniões com relação ao microcosmo que os cerca – representado pela casa onde os dois vivem.
            Não é de hoje que questionamos aquilo que temos e com a família nunca foi diferente. A velha máxima de que todas as famílias são perfeitas, menos a minha se aplica muito bem aqui. Para Hubert Minel é impossível não comparar a relação que seu namorado Antoine tem com a mãe com aquela que ele próprio tem com a sua, aumentando ainda mais o abismo que existe entre mãe e filho. O jovem encontra sempre um obstáculo na figura materna; seja na forma como ela mastiga seus alimentos ou nas roupas que veste, Hubert sempre encontra um meio de criticá-la como que querendo culpá-la por alguma coisa. O rapaz está sempre a ponto de explodir – como todo adolescente – e quando isso acontece, ele acaba por despejar toda sua raiva em sua mãe. A grande contradição e, portanto, conflito desse drama está justamente no fato de Hubert saber – em seu íntimo – o quanto ama essa mulher, mesmo sem saber por quê. Desse ponto surge o grande questionamento do filme, o qual, de forma bem universalista, nos aborda sobre o amor familiar e as dificuldades de entender a existência das individualidades que constituem os membros de uma família e que, em alguns momentos, podem colocar parentes em posições divergentes sem apagar o sentimento que sentem um pelo outro.
            É com esse questionamento em mente que a questão da homossexualidade de Hubert emerge na narrativa. O fato de não contar para a mãe sobre sua condição se impõe como um grande conflito para Hubert, uma vez que se torna difícil exigir que ela entenda seu universo. Já para sua mãe, descobrir que seu filho é gay por uma estranha coloca em cheque a relação de confiança entre os dois – pois passa a acreditar que o filho não confia nela, apesar de todos os esforços que realizou ao longo dos anos para ser mãe solteira. Esse é o grande mérito do filme canadense: possibilitar ao espectador todas as visões desse relacionamento sem, jamais, tornar-se caricato ou piegas – apesar de um insert que me incomodou durante a ação. E já que falei em inserts, vários aparecem ao longo da narrativa. Em alguns momentos, eles surgem na forma de simbolismo, trazendo um ar metafórico para determinados acontecimentos – confesso que esses não são meus favoritos. Entretanto, também testemunhamos um depoimento – de valor diegético para o longa – do próprio Hubert, refletindo sobre as sensações e dúvidas que brotam do seu íntimo em relação a sua mãe e esses inserts são muito bem elaborados, pois parecem um diálogo do personagem com o espectador, tornando mais próximas de nós as situações que observamos – afinal, quem nunca teve uma briga familiar que despertasse da nossa mais profunda natureza o desejo de morte a um pai ou a uma mãe?  
            A dramaticidade desse filme é muito intensa e, tal fato, demonstra o quão promissor pode ser o jovem Xavier Dolan que tinha apenas vinte anos quando – repito – roteirizou, dirigiu, produziu e protagonizou Eu matei minha mãe.

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