Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne
O Silêncio de Lorna rendeu a seus diretores, a dupla de irmãos belga Jean-Pierre e Luc Dardenne, seu quinto prêmio em Cannes. Apesar de não repetir o feito de Rosetta e A Criança, vencedores do prêmio máximo do festival em 1999 e 2005 respectivamente, o filme de 2008 conquistou a categoria de melhor roteiro. O roteiro, aliás, é uma das maiores preocupações desses diretores, sendo responsável pela base estrutural das boas interpretações que possam transmitir ao espectador um pouco das angústias que permeiam a dura realidade que nos cerca.
A personagem-título do filme é uma albanesa a qual encontrou em um casamento com um jovem drogado a chance de possuir cidadania belga. Como é possível presumir, o matrimônio não passa de uma fachada cercada de interesses que envolvem marido – Claudy –, esposa – Lorna – e um tipo de máfia da imigração, representado pelo taxista Fabio. O plano é que o marido de Lorna, por ser drogado, não tenha um futuro muito longo, abrindo as portas para que ela possa casar-se novamente com um russo interessado na cidadania local – o que renderia bons lucros a jovem, possibilitando a ela o sonho de abrir um bar junto com seu verdadeiro namorado. Um negócio muito simples, não fosse o fato de que o dinheiro ignora os laços e condições humanas.
Construída como uma mulher que busca manter o controle da situação, Lorna prefere entregar-se ao silêncio, concordando com o que lhe é proposto, mesmo que no momento oportuno venha a agir conforme sua preferência. Sua busca pelo controle acaba se tornando um problema, levando-a a agir de forma impensada para alcançar seus objetivos. Ao contrário do que é planejado para sua situação, Lorna deseja conseguir o divórcio de seu marido o mais rápido possível – primeiro por não agüentar mais o estado do rapaz, sempre entregue às drogas e segundo por preferir vê-lo vivo a esperar uma overdose, cada vez mais, provável. Por outro lado, a atitude da protagonista em agir por conta própria acaba indo de encontro aos intuitos de Fabio, minando a confiança que ele deposita nela. A partir de então, Lorna se vê diante de uma situação conflitante, já que percebe que aqueles que estão a sua volta a transformaram e a Claudy, a quem o tempo todo se referem como o drogado, em meras moedas de troca.
Jérémie Renier, em sua atuação como o viciado Claudy, entrega um personagem muito completo em seu conflito emocional com as drogas, em sua carência que o faz sustentar-se emocionalmente na figura da esposa e na magreza que teve que alcançar para o papel – a figura de Renier neste filme nem de longe lembra a que testemunhamos em A Criança –; e sua atuação rende alguns dos melhores momentos do filme.
Apostando em planos longos, capazes de revelar algumas angústias do cotidiano, os irmãos Dardenne conceberam uma obra muito interessante, embora seu alcance não se compare ao de A Criança.
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