domingo, 10 de abril de 2011

O PEQUENO NICOLAU (Le Petit Nicolas; França – 2009)

Direção: Laurent Tirard

            No início dessa divertida comédia francesa, o jovem Nicolau é abordado em sua escola pela pergunta mais tradicional da infância: o que vai ser quando crescer. Incomodado por não estar seguro sobre o tema, o menino olha a sua volta, percebendo – mesmo que de forma infantil – que seus colegas já parecem ter opções bem consolidadas para o futuro. Logo nesse prólogo – ao melhor estilo Amelié Poulain – mergulhamos em um universo muito agradável o qual constituirá a base estética e narrativa do filme de Laurent Tirard baseado na obra homônima de Jean-Jacques Sempé e René Goscinny.
            O incômodo gerado em Nicolau parte da satisfação que vivencia junto a seus pais e colegas, colocando em cheque a obrigação que tem de pensar em mudanças no futuro – seu desejo maior é que sua vida permaneça do jeito que é. Tal fato nos leva a refletir sobre as reais necessidades que as crianças têm de se preocuparem com a vida adulta em vez de gastarem seu tempo sendo o que elas são. Entretanto a inocência particular do protagonista dessa película faz com que o mundo adulto ganhe outras conotações e, por exemplo, se um amigo sonha em ser diplomata, isso se dá pelo fato de participar de inúmeros banquetes onde poderá realizar aquilo que mais gosta: comer.
            E se o grande desejo de Nicolau está na manutenção do seu estilo de vida, o grande conflito surge quando passa a acreditar em uma mudança radical. Ao ouvir uma conversa dos pais, o rapaz acha que ganhará um irmão mais novo o que representaria a perda da atenção que recebe e, até mesmo, a possibilidade de ser abandonado em uma floresta. Para evitar essa tragédia, o pequeno apela para inúmeras tentativas que variam desde agradar sua mãe até a opção de seqüestrar o bebê, contando sempre com a ajuda de seus fiéis amigos. E é a partir dessas relações que tanto o universo quanto a visão infantil ganha espaço, criticando de forma satírica o modo sério de vida dos adultos – que testemunhamos em determinadas situações como o preparativo de um jantar importante ou a definição de um castigo entre o diretor e o inspetor da escola.
            A escola, por sinal, é o ambiente onde esses meninos discutem os acontecimentos e planejam suas táticas no intuito de auxiliar Nicolau. Tradicionalista – é uma escola só para meninos – e, por tal razão, cheia de regras, esse cenário é onde acontecem alguns dos melhores momentos de O Pequeno Nicolau. Se para manter a ordem dentro de sala, a professora exige que os alunos sentem em seus lugares, a entrada do diretor, por sua vez, exige que todos se levantem em sinal de respeito e as duas situações em seqüência acabam por se tornar um ponto divertido da narrativa, uma vez que expõe certo condicionamento dessas crianças e da professora às normas que regulam a instituição. Em outro momento, a visita de um membro do governo acaba por deixar todos apreensivos sobre a conduta das crianças, estabelecendo um comportamento deveras formal que entra em conflito com o estilo informal do ministro.
            Com um estilo que muito lembra o mestre Jacques Tati, O Pequeno Nicolau nos transporta a um conjunto de situações que nos pareceria surreal, não fosse o fato de serem vivenciados com a pureza e o idealismo infantis e, se o questionamento inicial do filme surge como uma imposição dolorosa para o protagonista, sua resposta, sem dúvida nos presenteia com uma sensação mais que prazerosa – quase catártica.  
            

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