quinta-feira, 21 de abril de 2011

GATO PRETO, GATO BRANCO (Crna mačka, beli mačor – Iugoslávia/Sérvia, 1998)

Direção: Emir Kusturica

 

            Confesso que foi difícil determinar a nacionalidade do filme de Emir Kusturica. A razão é simplesmente a complexa história recente dos países da região dos Bálcãs que, após o fim do domínio soviético, iniciou um processo de desintegração – marcado por guerras sangrentas e, até genocídios – resultando no desaparecimento da Iugoslávia através do seu desmembramento em várias nações como a Bósnia, a Croácia, a Eslovênia e, mais recentemente, Montenegro e Sérvia. Kusturica é de origem sérvia, mas no ano de 1998, mesmo que no meio do processo de desintegração iugoslava – mais especificamente às vésperas da Guerra do Kosovo – a Sérvia ainda era parte da Iugoslávia e, portanto, o filme pode ser considerado iugoslavo – embora também possa ser considerado sérvio. Curioso é perceber que, mesmo em meio a tantas atrocidades – muitas vezes pautadas por diferenças étnicas – o diretor sérvio responda a situação de seu país realizando um filme tão pautado no riso, na alegria e na amizade. Gato preto, gato branco é uma comédia diferente, capaz de gerar no espectador um misto de admiração e divertimento.

            Ambientado em uma aldeia cigana, o filme logo nos apresenta ao jovem Zare e seu pai Matko. A relação dos dois varia da cumplicidade entre pai e filho à divergência – especialmente pelo fato de Zare discordar de alguns métodos ilícitos utilizado pelo pai para conseguir dinheiro. Nada simboliza melhor essa relação que a cena em que Matko dá um cascudo na cabeça do filho, imediatamente seguido por um beijo (Papai te ama). Com apenas dezessete anos, Zare semeia seu primeiro amor por Ida, mas, devido a um negócio mal feito, que deixou seu pai endividado com o criminoso Dadan, o jovem se vê obrigado a casar-se com Afrodita cuja fama de joaninha não atrai em nada o rapaz. Em meio a isso tudo, ainda está um tipo de poderoso chefão da região que, também deseja reclamar uma dívida de Matko – só que, neste caso, o preço é a própria vida dele. O diretor costura (desculpas pelo trocadilho) essa situação de uma forma vibrante e ágil, inserindo situações que beiram do surreal – como o método utilizado por certa cantora para retirar um prego de uma trave de madeira – ao poético – observado na belíssima cena de Zare e Ida em um campo de girassóis.

            Trazendo um belo exemplo de valores como amizade e família, além de tratar do despertar do amor, Kusturica, praticamente, deixa uma mensagem para seus conterrâneos em tempos de guerra – tudo sendo testemunhado por aqueles que dão título ao filme e é interessante notar como a união entre preto e branco, no caso dos gatos, pode ser encarado como simbologia para a união experimentada pelos personagens do filme. Gato preto, gato branco é mais um belo exemplar de como o riso pode superar a tristeza da guerra. Impossível não dar boas gargalhadas com o que se vê na tela, mais impossível ainda não sentir um desejo incontrolável de sair pulando ao som de Bubamara.

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