terça-feira, 28 de julho de 2009

POETA LÍRICO-AMOROSO

Provei do seu pecado
e chorei de dor
por saber que o amor
é privilégio de poucos,
banalidade de muitos
Jogado fora aos prantos,
penso no instante
em que sonhei acordado
e acordei em seus braços
abarcando-me em si
Transformava-me em puro caso,
em cujo sonho sado
nada mais era
que o maior dos pecados:
Amar sem ser amado

Mario Chris

terça-feira, 21 de julho de 2009

TEORIA DA INSANIDADE

Servos da luz, olhai-me
sois a esperança que nos resta
do futuro que nos espera
que heis de mudar
Não pensai, vós,
que mentes sãs são capazes
(Não são!)
Precisamos de mais
Insanos, sois capazes de idealizar
a nova verdade futura
da presente sociedade corrompida
Insanidade! É isso que querem
Mudai isso, Insanos, sois fortes
suficiente para terem
no futuro que vos espera
um lugar ao Sol
Servos da luz, fazei me orgulhoso
assim, não temerei o que digo
em um novo mundo construído
sem guerras e injustiças
criadas pelos sãos
que nada mais são
do que Servos da escuridão

Mario Chris


Tenho um carinho mais que especial por essa poesia, pois a escrevi ainda no segundo ano do Ensino Médio – no, não tão longínquo, ano de 2003. Engraçado que, remexendo meus arquivos, descobri que ela é uma das únicas poesias que escrevi e que estão datadas (mais precisamente 07/10/2003). Lembro que essas poesias surgiam no meio de alguma aula tediosa: geralmente as aulas de química, física, matemática ou inglês. Resolvi postá-la por ser uma das primeiras poesias que assinei com o pseudônimo Mario Chris.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ferreira Gullar - parte 1

Ferreira Gullar é considerado o maior poeta vivo do Brasil. Na segunda vez em que estive em sua residência, acompanhado de alguns amigos de faculdade, tive a oportunidade de realizar um ótimo bate-papo sobre literatura brasileira – em especial, as tendências que ela assumiu e assume para o futuro. O poeta falou sobre Flip, religião, arte contemporânea, música, internet, além de recitar um poema de sua autoria – inédito – com o qual começo essa série de reflexões sobre Gullar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

DEZ MINUTOS EM VISTA ALEGRE

- Dezessete anos... Você...
Dezessete anos e um pacto de vida concedido por Deus é rompido pelo estalo seco do revólver – manchado de sangue.

Pablo amanheceu diferente naquela manhã – tinha um sorriso maroto no rosto; típico da idade. Em seus poucos dezessete anos, havia experimentado muitas coisas incomuns a sua época, mas, naquele dia específico, provou a sensação de se tornar homem. Deitado ao lado da mulher que o trouxera à maturidade, orgulhava-se de ter levado ao orgasmo uma senhora casada, dezenove anos mais velha. Nem sabia direito o que era aquilo, apenas deixou que ela agisse, confiando em seus toques e movimentos. Já tinha um bom conselho para seus futuros filhos e netos.
Já tinham passado cinqüenta minutos das sete horas e Camila despertava nos braços de um passivo rapaz, que, segundo suas próprias palavras, descobrira o que era a vida momentos antes. Ela, casada, mãe de um filho caiu atraída pela precocidade do primo de seu vizinho e ignorou tanto o casamento de dez anos quanto a prole de quatro.
Nesse instante, ouviu-se o barulho da porta e os passos pesados de um saudoso marido. A sensação de sonolência sumiu rapidamente e um olhar desesperado encontrou o jovem olhar perdido de Pablo. Ele, desentendido, ouviu as palavras desencontradas de Camila e desnorteado assistiu a entrada triunfal do enganado seguida das lágrimas de raiva e da sede de vingança. Tentou levantar-se, hesitou – ainda estava sem roupas -; ouvia as tentativas de explicação da esposa infiel. Pablo busca a saída com olhares e se imaginava longe dali – onde fora se meter... Daí veio a primeira pancada – no rosto. Foi agarrado e puxado. Camila tentou segurá-lo também, mas a força do marido traído foi maior, tamanha a raiva. Contra a parede, nu, Pablo se deu conta de que estava sob a mira de um revólver – sob a mira de um homem irado.
- Acha bonito ir para a cama com a mulher dos outros? – começava a contagem regressiva.
Camila, em prantos, dividia-se entre implorar pela vida de Pablo e tentar entender o que havia saído errado em sua pulada de cerca. O marido chegou muito de repente, mal sabia ela de onde. Ele havia viajado? Estava no trabalho? Trabalhava a noite... Quem sabe? Talvez estivesse com outra mulher e esse fosse o motivo para sua traição – vingança... Não conseguia seguir uma linha de raciocínio lógica. Lembrava que trouxera Pablo consigo até seu apartamento. Chegaram tarde – passavam das duas da manhã. O pequeno Matheus acordou sossegado pelos carinhos da mãe e foi levado para sala onde conheceu um novo amigo. Pablo sentiu-se na necessidade de confortar o menino que ria, ainda que sonolento, de suas palhaçadas juvenis. Logo depois, a criança foi levada para a casa do vizinho – o primo era cúmplice da primeira noite do pequeno Pablo. Ela apertou os olhos e voltou à realidade. O marido dava tapas no pobre rapaz.
Pablo, sem palavras, deixava a mão pesada de seu futuro algoz alcançar seu rosto com raiva. Doía na face, doía na consciência. As lágrimas caíam em seu rosto – voltava a ser uma criança imatura. Camila mentiu... Ainda havia muita coisa a ser descoberta na vida. Queria apenas que aquela noite fosse perfeita e, de fato, foi. No momento mais esperado, cresceu – não podia se apresentar como uma criança, apesar do nervosismo impedir; ela gostou. E, disso, ele se orgulhava. Quantos podiam contar a história que ele poderia a partir daquele dia. Não podia. Tinha convicção de que não sairia vivo dali e chorava por isso.
- Quantos anos?
- Dezessete, Paulo. Pelo amor de deus...
- Não falei com você...
Então esse era o nome dele. Finalmente havia sido apresentado ao amante de sua esposa. Talvez ele já soubesse seu nome, deviam ter rido durante toda a noite: “aquele corno”. Paulo não tirava sua arma da cara daquele ridículo bebê chorão. Só não entendia o que havia acontecido de errado em seu casamento. Um garoto de dezessete anos na cama com sua esposa. E seu filho onde estaria? Olhou atentamente para sua vítima e percebeu que parara de bater nele. O rosto a sua frente estava bem avermelhado – pelas pancadas, pelo choro interminável. Seus sentimentos misturavam-se, não movia o revólver um centímetro sequer. Como aquele garoto pudera fazer isso? Olhou atentamente nos olhos do pequeno, esbanjava ódio:
- Dezessete anos... Você...
Dezessete anos e um pacto de vida concedido por Deus é rompido pelo estalo seco do revólver – manchado de sangue. Pablo, de olhos fechados, caiu encolhido no canto com a terrível sensação de ser encontrado nu pela perícia. Ele podia ao menos tê-lo deixado colocar as roupas – a morte seria mais digna:
- Foi sua primeira vez, não foi?
O jovem abriu os olhos e enxergou, de baixo para cima, Paulo a sua frente. Sobre a cama, o sangue de Camila manchava os lençóis e, na rua, já dava para ouvir as manifestações de espanto que acordou todo o quarteirão. Ainda espantado, ainda com lágrimas saindo dos olhos, Pablo acenou que sim:
- Some daqui antes que eu me arrependa do que eu fiz e eu sei que eu vou me arrepender.
Tremendo de medo, o pequeno Pablo pegou suas roupas e saiu – sem reação nenhuma. Sem reação quando viu Camila tirando o vestido; sem reação quando sentiu-se dominado por ela; sem reação quando o marido chegou; sem reação... Pecou, ejaculou, morreu, renasceu... Quantas experiências para os futuros filhos e netos.
Do lado de fora, muitas pessoas se aglomeravam ao redor do prédio – não conseguiu olhar ninguém. Apenas caminhava sem redirecionar os olhos para lado algum. A sua frente, o comércio despertava para mais um dia de trabalho – eram oito da manhã e Pablo já havia visitado o céu e o inferno, duas vezes.

MARIO CHRIS