domingo, 24 de maio de 2009

POETA INCOMPLETO

Diante de mim
Olhando em si
Descubro, sim
O que só enxergo nos outros
E percebo que sou,
Em completo,
Um sujeito incompleto
Pois sou incapaz de entender
O sentido que represento
Perante mim mesmo

(Mario Chris)

O POETA DO ANTI-AMOR

Diante do espelho observa

atentamente espera

Olha nos olhos

Sente

Diante do espelho admira

E o frio se apresenta

subindo a espinha, comunica

O amor chegou

Diante do espelho fixa

a paixão duradoura

e o corpo treme

Medo

Diante do espelho joga

A esperança de ante, infante

que o amor é eterno

Mentira

E será diante do espelho

em cacos cortantes, notará

que o reflexo é inverso

de tudo que lhe está perante

É a vida.

(Mario Chris)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

NA NATUREZA SELVAGEM (Into the Wild – EUA; 2007)

Direção: Sean Penn

Somos sujeitos sociais construídos através de uma lógica cultural anterior a nós mesmos, que nos impõe um conjunto de relações cuja constituição interpola a nossa condição de indivíduo, lançando-nos a hierarquizar nossas decisões – privilegiando a exterioridade e a vergonha em detrimento da interioridade e culpa. As circunstâncias da vida social, ao longo do desenvolvimento de si, impedem um mergulho profundo no que diz respeito à autoconsciência e à descoberta individual – é como ser anti-social, anormal, considerado autista. Até que ponto esse desconhecimento imposto nos é prejudicial? Até que ponto abrir mão do que nos é dado pela sociedade pode nos libertar? Libertar-se da sociedade, de certa forma, parece ser aprisionar-se em si mesmo e, ao que parece, saber dosar essa dicotomia sujeito-indivíduo é o caminho certo para a auto-realização. A verdadeira felicidade [que preenche o indivíduo tal como ele é] só é possível quando partilhada [com aqueles que nos preenchem como sujeito].

Em 1990, logo após sua graduação, o jovem Christopher McCandless deixou para trás tudo que conhecia – incluindo família, economias e amigos – em busca de sua grande aventura rumo ao Alasca, onde pretendia viver junto à natureza (leia-se descobrir a si mesmo). Assumindo o pseudônimo de Alexander Supertramp – uma clara evidência de que o rapaz buscava fugir, não apenas de sua condição de sujeito construída ideologicamente, mas também de seu passado familiar – Chris viaja pelos EUA conhecendo diferentes personalidades com as quais aprende novas visões da vida, além de semear seu conhecimento durante o percurso. Entretanto, o projeto de vida de Chris, somado a sua inexperiência juvenil, acaba por cegar o rapaz, impedindo que ele reflita sobre as suas ações e as conseqüências que elas tomaram – na verdade, a reflexão só surge, de fato, quando é tarde demais. Durante dois anos, Chris buscou na benevolência da natureza, aquilo que ele não encontrou em sua vida – em meio às turbulências familiares e obrigações sociais. Ironicamente, a própria natureza impôs ao jovem tal reflexão, através de seu domínio sobre a natureza humana (não posso deixar de reparar a forma como o título do filme, nos créditos iniciais, ganha forma sobre a pequena figura do jovem caminhando pelo Alasca, dominando o plano de forma imponente).

Sean Penn esperou dez anos para poder levar a cabo esse projeto, baseado no livro de Jon Krakauer. O diretor, que também assina o roteiro, procurou esperar o tempo ideal para a realização do longa, aguardando o momento em que a família do rapaz ficaria a vontade em ver a história do filho nas telas de cinema. Inicialmente, o projeto contaria com a presença de Leonardo Di Caprio no papel principal. Felizmente, os anos de espera, impossibilitaram sua utilização na trama e o ator Emile Hirsch foi o selecionado para tal (e que o faz de forma completa, tanto na transformação que o personagem sofre física e psicologicamente, quanto na consciência que o rapaz tem dessas mudanças). A trilha é assinada pelo vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, e assume um papel fundamental na narrativa, no que posso dizer ser uma das melhores trilhas dos últimos tempos. As belas atuações daqueles que surgem como coadjuvantes da história nos levam a reparar a forma como todos se identificam com os atos e decisões do rapaz – aliás quem não se identifica?

Finalizo essa resenha com uma percepção pessoal. Depois de anos estudando linguagem audiovisual, sintaxe cinematográfica, edição, dentre outros elementos da estrutura fílmica, perdi um pouco da sensibilidade no que diz respeito a viajar com a narrativa – sempre estando atento aos elementos técnico-narrativos. Na Natureza Selvagem surgiu para quebrar com isso. De fato, torna-se impossível não se deixar levar pela simpatia de Chris e sua história e tomar-se pelo intuito de refletir sobre as condições que nos cercam a todo tempo.