sábado, 9 de outubro de 2010

POETA BUCÓLICO

Desejo um mundo feto
sem forma ou planos definidos
envolto em útero infinito
Conceito de vivência de fato
sem medos ou medidas
Apenas vida
em estado pleno

Mario Chris

quarta-feira, 16 de junho de 2010

STREETS OF PHILADELPHIA (Bruce Springsteen)


Dia desses estava ouvindo umas músicas, em especial as feitas para o cinema, e fui pego desprevenido por Streets of Philadelphia. Fazia algum tempo que não a ouvia e voltar a sentir seu arranjo, prestar atenção em sua letra foi uma experiência muito agradável. Que bela música! Bruce Springsteen foi muito feliz em sua composição – ganhou o Oscar, o Globo de Ouro e o Emmy; a emoção poética que transborda de sua música é extremamente reflexiva e, por isso, muito relevante. Aliás, belo filme Philadelphia! Tom Hanks é um grande ator, encarna com tanta sinceridade a dor do preconceito em um personagem cuja condição de homossexual e soropositivo o colocou diante da intolerância dos ditos normais. Além disso, o filme ainda toca na questão racial através do personagem de Denzel Washington – advogado que defende a causa do personagem de Hanks. Apesar de não repetir a genial direção de O Silêncio dos Inocentes, Jonathan Demme realizou um filme correto com várias questões e com uma atuação que rendeu o primeiro Oscar de melhor ator para Hanks (o segundo viria um ano depois com Forrest Gump).
            Mas o motivo pelo qual escrevo este texto é o fato de ter ouvido a bela canção de Springsteen. Olhar para si e perceber a sensação de esvaecimento e da presença do silêncio que o transforma em algo irreconhecível. É quase um tratado de Ingmar Bergman feito em canção. E a sua associação com o filme em questão torna uma reflexão extremamente intimista em uma questão social – o que fazemos com nossos semelhantes? Quem reconhecemos como sendo nossos semelhantes? É realmente um trabalho muito bonito. Aliás, uma das mais belas canções agraciadas com o prêmio da academia, uma das mais belas feitas para o cinema. 

terça-feira, 25 de maio de 2010

AMADEUS (Amadeus – EUA; 1984)

Direção: Milos Forman

            Para mim não há o menor exagero em afirmar que assistir ao filme Amadeus é ter consciência plena de que o cinema é capaz de fornecer obras de arte. Dentre mais de oitenta filmes vencedores do prêmio da Academia na categoria de melhor filme, este é meu favorito. Não apenas por tudo que salta aos olhos de quem o assiste, mas – principalmente – por tudo a que faz referência. Milos Forman foi extremamente feliz em seu projeto, reunindo uma direção belíssima com atuações inspiradíssimas e uma máquina de produção completa (fotografia, figurinos, direção de arte, maquiagem... não há do que reclamar). O diretor tcheco conseguiu, dessa forma, o seu segundo Oscar, menos de dez anos depois de conquistar o primeiro pelo, também belo, Um Estranho no Ninho.
            Muito mais que uma cinebiografia, Amadeus é quase uma alegoria sobre questões que residem no comportamento do homem, tais quais a inveja e o preconceito. A vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart servem perfeitamente para tal: um jovem músico cujo dote musical manifestava-se desde os cinco anos, quando começou a compor suas primeiras obras. A partir da genialidade do personagem que dá título ao filme e de todas as lendas e mitos que existem em torno da sua figura, Forman nos apresenta a figura de Antonio Salieri, músico italiano que residiu em Viena, onde tornou-se compositor oficial do imperador austríaco.
            Salieri é a força motora de Amadeus. Logo na primeira cena, assistimos à sua tentativa de suicídio em meio a uma confissão de assassinato: ele se acusa, muito mais que confessa ter matado Mozart. Depois, diante de um padre, Salieri conta a história de sua relação com Amadeus, sua admiração pelo trabalho do jovem compositor e sua repulsa pelo estilo de vida do mesmo. Daí surge o grande questionamento do personagem: como seria possível um ser tão repulsivo ter a dádiva divina de compor as mais belas músicas já ouvidas?
            A aproximação dos dois músicos acaba por demonstrar para Salieri sua inferioridade em relação ao jovem contemporâneo, aumentando – cada vez mais – sua inveja, uma vez que, musicalmente, Mozart era tudo que ele gostaria de ser. Esse embate Salieri-Mozart é responsável pelos grandes momentos da narrativa, graças às belas atuações da dupla protagonista formada por F. Murray Abraham (Oscar de melhor ator pelo papel de Salieri e marcante em seus olhares analíticos de admiração e reprovação) e Tom Hulce (indicado pelo papel de Mozart e impagável com sua risada icônica). Como não se lembrar do primeiro encontro dos dois no palácio, quando Salieri tenta impressionar o visitante com uma marchinha que logo será “melhorada” por Mozart ou a belíssima cena em que os dois compositores “unem forças” para compor um réquiem?
            Entretanto considero que o maior feito desta obra é o fato de ter se apropriado livremente e poeticamente da biografia de dois músicos da segunda metade do século XVIII, enfatizando toda a mitologia que existe em torno da morte prematura de Mozart (alguns defendem que ele teria sido assassinado) e utilizando a loucura como fuga poética para a veracidade dos fatos narrados por Salieri. Sem dúvida alguma, Amadeus tem lugar eterno na história do cinema, fazendo jus à eternidade conquistada pela obra daquele que dá nome ao filme.

quarta-feira, 31 de março de 2010

POETA SEM MUNDO

Sente-se parte deste mundo?
onde, cada vez mais,
amizade é fantasia virtual,
felicidade, anestesia de poucos,
liberdade é sonho de todos
Somos parte de um mundo?
Que mundo é este? O que somos?
Somos seres de outro mundo
que caíram num obscuro sem fundo
em que ser homem é ser imundo

MARIO CHRIS