quinta-feira, 9 de junho de 2011

INCÊNDIOS (Incendies; Canadá – 2010)

Direção: Denis Villeneuve
            É difícil digerir Incêndios – estamos falando de uma rede de informações que resgatam um passado complexo de ser entendido, uma vez que envolve um híbrido de convicção polítco-religiosa com a natureza instintiva da figura materna. E, se a sensação de perplexidade toma o espectador após os minutos finais, tal fato é fruto da construção narrativa apresentada por Denis Villeneuve que garantiu ao Canadá uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano.
            A partir da leitura do testamento de sua mãe, Jeanne e Simon Marwan descobrem que o pai o qual achavam estar morto, na verdade, ainda está vivo e que, além disso, possuem um irmão desconhecido. O último pedido de Nawal é que os filhos entreguem duas cartas, uma ao pai e outra ao irmão desconhecidos deles no intuito de tornar cumprida uma promessa distante no tempo. Realizar esse desejo materno constitui-se em um mergulho intenso em uma série de informações que revelam mais uma pessoa desconhecida para o casal de irmãos gêmeos – dessa vez, a própria mãe.
            Sobre as terras áridas do Líbano (o filme nunca deixa claro que se trata do país, mas a inspiração fica clara no decorrer da narrativa), Incêndios divide-se em duas frentes narrativas que vão se conectando no desenrolar da ação. Por um lado, acompanhamos as investidas de Jeanne e, posteriormente Simon, de coletar informações sobre sua mãe a fim de que possam encontrar aqueles que procuram. Em paralelo, testemunhamos a história de Nawal desde as origens em sua aldeia até as transformações que sofre – influência do caldeirão político a que o Líbano se transformou no final da década de setenta. Interessante notar como a atmosfera histórica que permeia a narrativa serve de motivação para as escolhas que Nawal realiza. Isso se dá, tendo em vista que não se trata de um filme sobre a guerra do Líbano e, sim, sobre as escolhas – muitas vezes ilógicas – a que uma mãe é levada por sua própria natureza materna e humana. Dessa forma, a origem cristã de Nawal é irrelevante para ela em meio a tantos conflitos religiosos quando o assunto é seu filho perdido.
            Em meio ao terror da guerra que transforma seres humanos em assassinos em potencial – o filme mostra isso de forma eficaz, apresentando ações covardes em ambos os lados (cristãos e muçulmanos) – o casal de irmãos gêmeos vão desenhando a própria origem em uma forma de retratação póstuma montada por Nawal. Entretanto, essa conclusão só é possível após as revelações finais do roteiro, as quais possuem efeito semelhante a um soco na cara, tamanho o impacto de tais informações nas personagens e no espectador. Convincente em sua estrutura, Incêndios possui um dos melhores desfechos da safra de filmes do ano passado e, se certas coincidências parecem fugir à normalidade, é porque nem sempre um mais um tem dois como resultado.