quarta-feira, 20 de abril de 2011

4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS (4 luni, 3 săptămâni şi 2 zile – Romênia, 2007)

Direção: Cristian Mungiu

            O filme de Cristian Mungiu é o exemplar mais famoso da leva de filmes romenos que decolaram o cinema do país do leste europeu como A morte do Senhor Lazarescu e A leste de Bucareste. O posto alcançado por 4 meses, 3 semanas e 2 dias se dá pela Palma de Ouro conquistada em 2007 no Festival de Cannes – local, inclusive, fundamental para o reconhecimento do cinema romeno, onde os dois outros filmes citados foram laureados, respectivamente, com o Un certain Regard e o Camera D’or. Em alguns grupos cinematográficos, a produção fílmica da Romênia é comparada à do Brasil, tendo em vista o peso que a história dos dois países exerce sobre a ação dramática. Em 4 meses... estamos no ano de 1987 e, portanto, a nação ainda sofre influência do regime comunista soviético, sendo governada pelo líder (ditador) Nicolae Ceausescu. Na ocasião, o governo promovia uma tentativa de crescimento demográfico que, entre outras medidas, proibia terminantemente a realização de abortos sob pena de prisão e, caso o procedimento seja realizado após o quarto mês de gestação, o crime passa a ser de homicídio, aumentando a pena.
            Confiando em planos longos e no uso da câmera na mão, Mungiu nos leva a conhecer Otilia, uma jovem que divide quarto com sua amiga Gabriela em um alojamento de estudantes. Logo no início da história já testemunhamos algumas das angústias causadas pelo regime sob o qual o país se encontra. Elementos simples como cigarros, medicamentos e outros objetos são difíceis de serem adquiridos, tornando-se necessário recorrer à ilegalidade para consegui-los. Outra questão é a escassez de alguns elementos como quando uma das estudantes não possui leite para oferecer aos gatinhos que encontrou na rua ou a dificuldade de acumular dinheiro, observado nos empréstimos que são constantemente citados ao longo da narrativa ou, ainda, na maneira burocrática que Otilia consegue uma reserva em um hotel. E se é difícil viver nessas condições, pior seria com um filho, ainda mais se a gravidez for indesejada.
            Gabriela está grávida e, mesmo que de forma relutante, opta pelo aborto. Com a ajuda de Otilia. Elas chegam aos serviços de Bebe, que realiza o procedimento na ilegalidade, mas uma série de questões começa a gerar conflito nos personagens. O fato de Gabriela estar relutante em relação a sua escolha faz com que ela postergue o procedimento, aproximando sua gestação do prazo limite para tal – prazo ao qual o título do filme faz referência. Além disso, a jovem acaba por afirmar várias informações erradas ao cirurgião, dificultando a confiança entre eles – tudo testemunhado por Otilia cuja confiança na amiga também se abala, uma vez que se vê envolvida em uma situação angustiante e que culminará com o uso de favores sexuais no intuito de garantir a realização do aborto.
            A série de acontecimentos gera na protagonista, Otilia, uma série de reações subjetivas as quais, juntamente com os problemas por que passa em seu relacionamento com o namorado, nos trazem as questões que 4 meses... propõe levantar. O aborto é um assunto extremamente delicado e, por mais que possamos contrariar sua realização, não podemos negar as dificuldades éticas que experimentamos quando o tema surge tão próximo de nós. A estrutura de filme de Mungiu é típica para filmes de festival e, talvez, essa tenha sido a razão pela qual a película foi desclassificada da disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro na época, mas é inegável que se constitui como um drama eficiente.

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