Em minha resenha sobre o filme “Ninguém pode Saber” utilizei uma expressão para definir o papel do espectador ao assistir a essa película japonesa: observador passivo. Acrescentaria ainda ao filme “Elefante” a definição de observador passivo pelos motivos que irei dissertar a seguir, apresentando as justificativas pelas quais baseio meu entendimento sobre a expressão citada.
Nos dois filmes em questão, a câmera que acompanha o desenrolar das suas respectivas narrativas são meras observadoras. Na verdade, elas em momento algum interferem na ação dramática dos personagens cujos desenvolvimentos não acontecem em função do objeto de filmagem e sim o contrário. Essa função de observador acaba por se estender ao espectador, o qual, geralmente, sente profundo incômodo e assistir a esse tipo de filme. Isso acontece porque aquele que assiste ao filme é tomado por uma imensa vontade de atuar na perspectiva de alterar as situações apresentadas pela narrativa e esperam que a câmera – e a própria ação do drama – realize essas transformações. Nesse sentido aquilo que observaríamos como a condição inversa ao observador passivo (cuja conceituação mais apropriada no presente momento será a de observador ativo) acaba por criar uma aceitação de tudo aquilo que é apresentado pela narrativa, gerando uma condição, ironicamente, de passividade no espectador. Isso mesmo! Ocorre uma inversão nos conceitos, o que tentarei explicar.
A câmera quando assume o papel de observador ativo acaba por interferir no desenrolar da narrativa a qual ocorre em função daquilo que a câmera deseja captar (e por conseqüência, aquilo que o espectador deseja ver). As ações correm o risco de se tornarem falsas e as respostas acabam sendo dadas de forma simplista, através de sensações catárticas – em sua grande maioria piegas. Dessa forma, o espectador se resigna, aceita o que lhe é apresentado, tal qual foi apresentado, caindo numa passividade preocupante. Sai do cinema apenas com a sensação de ter sido agraciado com bom entretenimento que esperava antes de entrar na sala de projeção. Isso não quer dizer que filmes que apliquem esse conceito não sejam obras cinematográficas dignas de respeito. Ultimamente temos sido agraciados com ótimas películas que usam o papel de observador ativo – dentro daquilo que proponho a refletir. Homem-Aranha, Batman Begins, Kill Bill, Cidade de Deus são belos exemplos de uma utilização eficaz desse conceito. Não podemos perder de vista que o cinema é arte, mas também é entretenimento e conseguir unir essas duas perspectivas em uma obra é um feito merecedor de toda forma de consideração. Volto à discussão.
No conceito de observador passivo, a câmera não interfere bem como o espectador – eles apenas observam, sendo geralmente tomados por determinada forma de angústia difícil de explicar. A vontade é de interferir, algo que é impossível. Ao seguir essa forma de proposta estética, o diretor de cinema deve tomar muito cuidado, pois um mero momento de desatenção é capaz de derrubar todo o trabalho cinematográfico, tornando a obra em exemplar kitsch (um dia apresento uma divagação sobre kitsch que fiz com outros colegas de faculdade como trabalho de curso). Ao fim da projeção, o espectador percebe a incumbência de refletir sobre as situações dramáticas, sendo obrigado a assumir um papel ativo de divagação. Essa talvez seja a principal intenção nos filmes Elefante e Ninguém pode Saber – como disse na resenha de Elefante: esses filmes querem gerar perguntas e não oferecer respostas.
Espero ter sido claro em minhas divagações. Deixo claro que nenhuma das minhas afirmações tem a intenção de se tornar absoluta, sendo mera reflexão sobre a utilização do termo em uma resenha.
3 comentários:
Muito bom texto. Parabéns! ;)
Vou fazer eco aqui e dizer muito bom texto. Ficou muito bem explicado e gostei da idéia que vc trouxe. Continue o bom caminho ai no blog!
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