sábado, 30 de dezembro de 2017

MELHORES DE 2017 - PARTE 2 (OS DEZ MELHORES)

Como prometido ontem, aqui está a lista dos meus dez filmes preferidos - aqueles assistidos no ano de 2017 e listados em ordem alfabética.
OS DEZ MELHORES FILMES VISTOS EM 2017 (EM ORDEM ALFABÉTICA):
A GHOST STORY (Direção: David Lowery) – A angustiante dimensão do tempo. Indiferente aos nossos sofrimentos. Se ele pode ser a melhor companhia para esquecermos, pode também nos impor uma dor ainda maior. O que pensar de um fantasma que, preso em um espaço afetivo, testemunha as transformações de forma passiva, percebendo que ele mesmo – enquanto memória – se esvai a medida que os anos passam. Profundo em sua proposta e contando com uma ótima trilha sonora, “A Ghost Story” consegue ser um filme de fantasma diferente dos outros (o trocadilho foi sem querer e quem pescá-lo merece um doce) justamente por subverter a ideia de que são os fantasmas que devem assustar.

CORRA! (Direção: Jordan Peele) – Através dos mecanismos do gênero terror, Peele adentra a questão do racismo, apresentando uma obra eficaz em sua intenção de chocar e de fazer refletir (vide a sensação transmitida no chegar da polícia).

GABRIEL E A MONTANHA (Direção: Fellipe Barbosa) – A estratégia de filmar nos locais onde Gabriel Buchmann passou seus últimos momentos e de utilizar aquelas pessoas que interagiram com o jovem para interpretarem a si mesmos confere um grau de realismo ao filme de Barbosa, que, apesar de ter sido amigo de juventude do protagonista, não se privou de apresentar um personagem complexo que varia da doçura ao pedantismo – este, infelizmente, um dos fatores determinantes para seu desfecho na montanha que dá título a um filme cuja estrutura consegue transitar entre ficção e documentário de forma fluida.

MANCHESTER À BEIRA-MAR (Direção: Kenneth Lonergan) – Cassey Affleck, apesar de ser protagonistas de atos reprováveis em sua vida pessoal, comprova, mais uma vez, ser melhor ator que seu irmão Ben. A partir da performance visceral de um personagem que carrega a dor do mundo nas costas e que, muito além, encontrou conforto nessa posição sem perceber que sua busca por um castigo já é o castigo em si, Kenneth Lonergan entrega uma obra angustiante (a cena da delegacia, por si só, já define todo o peso dramático do filme). Além disso, conta com uma atuação inspirada de Lucas Hedge que, apesar da pouca idade, consegue ficar à altura do protagonista, algo fundamental para o sucesso da obra.

ME CHAME PELO SEU NOME (Direção: Luca Guadagnino) – Exibido no Festival do Rio e com estreia marcada para janeiro no circuito nacional, “Me chame pelo seu nome” deve sofrer ataques de defensores da moral e dos bons costumes e não me surpreenderá se alguma parcela desse grupo (se não sua totalidade) defendam a proibição de sua exibição nos cinemas do país. O filme de Guadagnino, baseado no livro de mesmo nome (também preste a ser lançado nas livrarias), trata de descobertas, de paixões, de amor, de sentimentos sinceros e conta com uma atuação maravilhosa de Timothée Chalamet (uma das minhas favoritas no ano). Chalamet consegue exprimir não apenas o adolescente irritante e pedante, mas também o jovem que começa a ter contato com seus sentimentos e ele faz isso com movimentos corporais, respiração e falas muito bem executadas. Destaque para a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom e, particularmente, para “Mistery of love”, canção de Sufjan Stevens.

MOONLIGHT – SOB A LUZ DO LUAR (Direção: Barry Jenkins) – Fotografia e atuações de um elenco em sintonia (e Jenkins chegou a afirmar que não permitiu que os três protagonistas se encontrassem durante as filmagens para evitar a interferência de um sobre a performance do outro), “Moonlight – sob a luz do luar”, é um filme em que a sexualidade do protagonista é apenas uma das múltiplas dimensões. Protagonista de um dos momentos mais constrangedores do ano – quando “La la land” foi anunciado equivocadamente como vencedor do Oscar de Melhor Filme – “Moonlight” teve sua vitória na principal categoria da Academia sufocada pelo episódio, fato que não diminui a força das palavras de seu diretor: “To hell with dreams! This is reality!”

PATERSON (Direção: Jim Jarmusch) – “Paterson” é um filme que se preocupa em mostrar o repetitivo cotidiano de um motorista de ônibus que busca, na poesia, uma válvula de escape para sua incapacidade de reagir à realidade, submersa na pressão da mesmice e, mesmo nos momentos em que os episódios fogem à normalidade, não demora muito para que o protagonista (que dá nome ao filme e à cidade onde mora) faça todo o ritual necessário para que as coisas voltem ao normal.

POESIA SEM FIM (Direção: Alejandro Jodorowsky) – Segunda parte da autocinebiografia de Jodorowsky, “Poesia sem fim” contou com a preciosa ajuda de doações via crowdfunding para ser filmado. Nesta obra, Jodorowsky apresenta sua aproximação com a arte e o desenvolvimento pessoal que culminou na sua saída do Chile rumo à Europa, sem ignorar a difícil relação com o pai em uma época de tensões culturais e políticas. O toque poético presente nos cenários, figurinos (as máscaras sem expressão são sensacionais) e ações dos personagens (na forma como andam ou falam) é destaque neste filme que, infelizmente, foi pouco divulgado no país.

PROJETO FLÓRIDA (Direção: Sean Baker) – Aqui, pude experimentar inúmeras sensações ao longo de duas horas: risadas, lágrimas, apreensão... “Projeto Flórida” é uma obra que, assim como seu trabalho anterior, “Tangerine”, escancara o lado esquecido de uma Flórida lembrada por conta de parques e consumo. O elenco é encantador e espero, sinceramente, por uma indicação para Willem Dafoe, pois sua atuação é digna de todo reconhecimento; admiremos também a doce Brooklynn Prince cuja entrega é de dar inveja a muito ator veterano.

TONI ERDMANN (Direção: Maren Ade) – Felicidade e afeto são alguns dos ideais apresentados no filme e que, em tempos como os que vivemos atualmente, parecem ter se perdido em meio ao ideal de sucesso. A estratégia encontrada por um pai para se aproximar da filha workaholic já vale as três horas de “Toni Erdmann”, mas a performance de “The Greatest Love of all” e a festa que desnuda todas as idiossincrasias daquele grupo de pessoas abrilhantam ainda mais o trabalho de Ade.  

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