Como prometido ontem, aqui está a lista dos meus dez filmes preferidos - aqueles assistidos no ano de 2017 e listados em ordem alfabética.
OS
DEZ MELHORES FILMES VISTOS EM 2017 (EM ORDEM ALFABÉTICA):
A
GHOST STORY (Direção: David Lowery) – A angustiante dimensão
do tempo. Indiferente aos nossos sofrimentos. Se ele pode ser a
melhor companhia para esquecermos, pode também nos impor uma dor
ainda maior. O que pensar de um fantasma que, preso em um espaço
afetivo, testemunha as transformações de forma passiva, percebendo
que ele mesmo – enquanto memória – se esvai a medida que os anos
passam. Profundo em sua proposta e contando com uma ótima trilha
sonora, “A Ghost Story” consegue ser um filme de fantasma
diferente dos outros (o trocadilho foi sem querer e quem pescá-lo
merece um doce) justamente por subverter a ideia de que são os
fantasmas que devem assustar.
CORRA!
(Direção: Jordan Peele) – Através dos mecanismos do gênero
terror, Peele adentra a questão do racismo, apresentando uma obra
eficaz em sua intenção de chocar e de fazer refletir (vide a
sensação transmitida no chegar da polícia).
GABRIEL
E A MONTANHA (Direção: Fellipe Barbosa) – A estratégia de
filmar nos locais onde Gabriel Buchmann passou seus últimos momentos
e de utilizar aquelas pessoas que interagiram com o jovem para
interpretarem a si mesmos confere um grau de realismo ao filme de
Barbosa, que, apesar de ter sido amigo de juventude do protagonista,
não se privou de apresentar um personagem complexo que varia da
doçura ao pedantismo – este, infelizmente, um dos fatores
determinantes para seu desfecho na montanha que dá título a um
filme cuja estrutura consegue transitar entre ficção e documentário
de forma fluida.
MANCHESTER
À BEIRA-MAR (Direção: Kenneth Lonergan) – Cassey Affleck,
apesar de ser protagonistas de atos reprováveis em sua vida pessoal,
comprova, mais uma vez, ser melhor ator que seu irmão Ben. A partir
da performance visceral de um personagem que carrega a dor do mundo
nas costas e que, muito além, encontrou conforto nessa posição sem
perceber que sua busca por um castigo já é o castigo em si, Kenneth
Lonergan entrega uma obra angustiante (a cena da delegacia, por si
só, já define todo o peso dramático do filme). Além disso, conta
com uma atuação inspirada de Lucas Hedge que, apesar da pouca
idade, consegue ficar à altura do protagonista, algo fundamental
para o sucesso da obra.
ME
CHAME PELO SEU NOME (Direção: Luca Guadagnino) – Exibido no
Festival do Rio e com estreia marcada para janeiro no circuito
nacional, “Me chame pelo seu nome” deve sofrer ataques de
defensores da moral e dos bons costumes e não me surpreenderá se
alguma parcela desse grupo (se não sua totalidade) defendam a
proibição de sua exibição nos cinemas do país. O filme de
Guadagnino, baseado no livro de mesmo nome (também preste a ser
lançado nas livrarias), trata de descobertas, de paixões, de amor,
de sentimentos sinceros e conta com uma atuação maravilhosa de
Timothée Chalamet (uma das minhas favoritas no ano). Chalamet
consegue exprimir não apenas o adolescente irritante e pedante, mas
também o jovem que começa a ter contato com seus sentimentos e ele
faz isso com movimentos corporais, respiração e falas muito bem
executadas. Destaque para a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom e,
particularmente, para “Mistery of love”, canção de
Sufjan Stevens.
MOONLIGHT
– SOB A LUZ DO LUAR (Direção: Barry Jenkins) – Fotografia e
atuações de um elenco em sintonia (e Jenkins chegou a afirmar que
não permitiu que os três protagonistas se encontrassem durante as
filmagens para evitar a interferência de um sobre a performance do
outro), “Moonlight – sob a luz do luar”, é um filme em
que a sexualidade do protagonista é apenas uma das múltiplas
dimensões. Protagonista de um dos momentos mais constrangedores do
ano – quando “La la land” foi anunciado equivocadamente
como vencedor do Oscar de Melhor Filme – “Moonlight”
teve sua vitória na principal categoria da Academia sufocada pelo
episódio, fato que não diminui a força das palavras de seu
diretor: “To hell with dreams! This is reality!”
PATERSON
(Direção: Jim Jarmusch) – “Paterson” é um filme que
se preocupa em mostrar o repetitivo cotidiano de um motorista de
ônibus que busca, na poesia, uma válvula de escape para sua
incapacidade de reagir à realidade, submersa na pressão da mesmice
e, mesmo nos momentos em que os episódios fogem à normalidade, não
demora muito para que o protagonista (que dá nome ao filme e à
cidade onde mora) faça todo o ritual necessário para que as coisas
voltem ao normal.
POESIA
SEM FIM (Direção: Alejandro Jodorowsky) – Segunda parte da
autocinebiografia de Jodorowsky, “Poesia sem fim” contou
com a preciosa ajuda de doações via crowdfunding para ser filmado.
Nesta obra, Jodorowsky apresenta sua aproximação com a arte e o
desenvolvimento pessoal que culminou na sua saída do Chile rumo à
Europa, sem ignorar a difícil relação com o pai em uma época de
tensões culturais e políticas. O toque poético presente nos
cenários, figurinos (as máscaras sem expressão são sensacionais)
e ações dos personagens (na forma como andam ou falam) é destaque
neste filme que, infelizmente, foi pouco divulgado no país.
PROJETO
FLÓRIDA (Direção: Sean Baker) – Aqui, pude experimentar
inúmeras sensações ao longo de duas horas: risadas, lágrimas,
apreensão... “Projeto Flórida” é uma obra que, assim
como seu trabalho anterior, “Tangerine”, escancara o lado
esquecido de uma Flórida lembrada por conta de parques e consumo. O
elenco é encantador e espero, sinceramente, por uma indicação para
Willem Dafoe, pois sua atuação é digna de todo reconhecimento;
admiremos também a doce Brooklynn Prince cuja entrega é de dar
inveja a muito ator veterano.
TONI
ERDMANN (Direção: Maren Ade) – Felicidade e afeto são alguns
dos ideais apresentados no filme e que, em tempos como os que vivemos
atualmente, parecem ter se perdido em meio ao ideal de sucesso. A
estratégia encontrada por um pai para se aproximar da filha
workaholic já vale as três horas de “Toni Erdmann”, mas
a performance de “The Greatest Love of all” e a festa que
desnuda todas as idiossincrasias daquele grupo de pessoas abrilhantam
ainda mais o trabalho de Ade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário