É
difícil determinar uma lista dos 10 melhores filmes assistidos em um
ano. O universo e a diversidade cinematográfica é tamanha, que
escolher um em detrimento de outro é uma tarefa muitas vezes injusta
e angustiante, tal qual O sacrifício do cervo sagrado. A
verdade é que, apesar de toda a angústia, gostamos muito de nos
impor esta Escolha de Sofia
e, todos os anos, debruçamo-nos em listas de indicados a prêmios,
fazemos nossas apostas e, por que não?, elegemos
nossos
próprios
melhores do ano. Resolvi fazer uma lista este ano, pois, após um
2016
distante do cinema, 2017 marcou meu retorno às salas, ao Festival do
Rio e aos debates acalorados sobre bons filmes. Difícil limitar-se
a dez filmes. Por isso, apesar
de criar a lista, optei por fazer referência a algumas
obras que, embora não tenham
ficado entre os dez, poderiam ter entrado na lista. Outra
característica que insisto em manter é a de não criar um Top 10,
mas uma seleção de filmes em ordem alfabética.
MENÇÕES HONROSAS (EM ORDEM
ALFABÉTICA):
DUNKIRK
(Direção: Christopher
Nolan) – filme muito bem
realizado, com um aparato técnico irrepreensível (a trilha sonora
de Hans Zimmer prova que o compositor voltou a sua melhor forma).
Aqui, encontra-se uma das cenas mais angustiantes do ano e a ideia de
um vilão quase invisível foi uma excelente estratégia para
transmitir o horror da guerra. O roteiro, no entanto, deixa a desejar
e, particularmente, não gostei do final nem do personagem de Keneth
Brannagh (totalmente dispensável).
GOD'S OWN COUNTRY
(Direção: Francis Lee) –
“Choices!”,
poderia dizer alguém. O filme de Francis Lee parte da concepção de
que a vida é feita de escolhas e, aqui, o protagonista sofre as
angústias de ter optado por ficar com a avó e com o pai doente em
vez de seguir para a universidade e para um mundo muito maior que a
casa de campo rodeada de ovelhas. Cria, a partir de então, uma
persona que insiste em demonstrar uma capacidade de lidar com os
problemas sozinho, lançando-se em relações meramente sexuais sem a
mínima profundidade. Um personagem muito bem elaborado diante das
escolhas que fez e daquelas que terá de fazer quando um estrangeiro
chega para ajudá-lo nas tarefas que insiste em fazer de forma
solitária.
HENFIL
(Direção: Angela Zoé) –
Em tempos como o que vivemos atualmente, é importante fazer chegar
às novas gerações o trabalho de figuras como Henfil. Recheado de
imagens de arquivo e permeado pelas impressões de uma nova geração
de animadores, o documentário de Angela Zoé consegue fazer com que
traços paralelos se encontrem rumo ao infinito.
HOMEM-ARANHA: DE VOLTA AO LAR
(Direção: Jon Watts) –
Mais um reboot da franquia Homem-Aranha poderia soar como mais do
mesmo. Watts, no entanto, conseguiu, junto a um roteiro bem
elaborado, retomar a história do herói sem a necessidade de
explicar pela trilionésima vez como Peter Parker se tornou quem é.
As boas-vindas do universo Marvel ao “Aranha” também conta com
um vilão muito bem elaborado e encarnado com maestria por Michael
Keaton (ironicamente um eterno herói da DC).
JIM
E ANDY (Direção:
Chris Smith) – Quase vinte anos depois, voltamos a uma das maiores
esnobadas do Oscar: “O mundo de Andy”. A partir de imagens de
arquivo – tipo making of do filme de Milos Forman –, Jim Carrey
fala sobre o seu processo de criação (diria até: incorporação)
do protagonista do filme Andy Kaufman, sobre sua carreira e sobre a
arte de atuar. É realmente impressionante o que Carrey conseguiu
construir e o quão longe conseguiu levar seu processo e o fato disso
vir à tona comprova seu potencial como ator. Destaque para o
telefonema entre Forman e Carrey que culmina em uma bela reflexão
sobre as diferenças entre representar e atuar.
LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES
(Direção: Damien Chazelle)
– Mais jovem diretor a vencer o Oscar, Chazelle conseguiu trazer de
volta a magia dos musicais e, aqui, não falamos de filmes baseados
em espetáculos da Broadway, mas de um roteiro original, escrito
diretamente para o cinema. A cartela “Cinemascope” que abre o
filme me deu a sensação de estar diante de um filme grandioso. Ao
final, no entanto, ficou a sensação do mesmo, o que não elimina as
qualidades da obra. A conclusão dessa busca de sonhos é a parte
mais significativa de “La La Land” e aquela troca de olhares
ganha muito mais significado quando acompanhada pelo Epílogo da
trilha sonora de Justin Hurwitz.
O
SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO
(Direção: Yorgos Lanthimos)
– Aqui meu cérebro bugou! Lanthimos já me causara angústia
quando lançou “Dentes Caninos”. Não cheguei a assistir ao seu
penúltimo filme, “O lagosta”, mas fui preparado para este “O
sacrifício do cervo sagrado”. Típico filme do modelo ame ou
deixe, a obra incomoda desde o primeiro plano até o último segundo.
É uma angústia que vai em um crescente ininterrupto, com
planos que parecem seguir os personagens e indicar um olhar invisível
que os observa, uma trilha incômoda e um clímax assustador.
PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA
(Direção: Matt Reeves) –
Encerrando a trilogia de cabeça erguida, este filme consegue ser
atual em sua abordagem (com construção de muros e tal), certeiro na
desumanização de homens cujas identidades limitam-se a patentes ou
ocupações, excepcional no uso da tecnologia que dá vida aos
símios, além de possuir uma das minhas trilhas sonoras preferidas
no ano, composta e conduzida por Michael Giacchino.
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