Direção: Wolfgang Becker
Não
são poucos os filmes alemães que figuram nas listas dos grandes da historiografia
do cinema. Títulos como O Gabinete do Dr.
Caligari, Metrópolis, M- o vampiro de Dusseldorf são frutos de
terras germânicas, bem como O triunfo da
vontade, propaganda mais que funcional do projeto nacional-socialista,
obra-prima de Leni Riefenstahl e referência obrigatória para estudantes de
cinema – em especial o documentário. Na última década foi possível perceber um
renascimento do cinema alemão, chegando às telas ótimas películas como Corra, Lola, corra, A vida dos outros, Lugar
nenhum na África, A onda e este
maravilhoso Adeus, Lênin!.
Passado no período da queda do muro de Berlim, o filme de
Wolfgang Becker serve, não apenas como referência histórica para o país em
questão, mas como tratado político sobre um momento em que as ideologias perdem
espaço e sentido para a sociedade de uma forma geral.
O protagonista Alexander Kerner cresceu na Alemanha
Oriental e é testemunha ocular (e não apenas ocular, se lembrarmos da cena em
que é agredido por policiais durante uma manifestação – como diria a mídia
brasileira “em sua maioria pacífica”) das transformações pelas quais a região
passou a partir da crise do socialismo soviético e o avanço do capitalismo,
culminando na reunificação alemã. Entretanto sua mãe, Christiane, esteve em
coma durante todo o processo e ignora as profundas mudanças ocorridas e,
sabendo que ela tinha grande conexão com o regime político outrora vigente,
Alex decide esconder dela a nova condição do país, evitando, assim, uma nova
carga de estresse que possa levá-la a óbito.
Carregado por um claro sentimento de nostalgia, Becker
demonstra em seu filme como aquela sociedade, apesar das ditas vantagens provenientes
do mercado capitalista, sente falta de seu antigo regime. Assim é interessante
notar como um personagem se dá conta de que uma das consequências práticas
dessa transformação seja o fato das pessoas serem levadas a revirar o lixo em
uma das melhores tiradas da película.
E se o avanço do capitalismo torna-se cada vez mais
descontrolado, tal situação vai se tornando um conflito maior para Alex, que
busca junto a conhecidos as mais divertidas formas de manter sua mãe em uma
ilusão mais que idealizada, se levarmos em conta que o país que Alex apresenta
a todos é aquele que sonhava, diferente do que existiu e do que existe – algo que
é lembrado em cenas como o maravilhoso desfecho envolvendo um cartaz da
Coca-Cola e as explicações dadas a Christiane sobre curioso ato migratório de
ocidentais para o lado oriental. Todavia não posso deixar de mencionar a
poética cena de Christiane olho a olho com personagem-título do filme – a estátua
do líder da revolução russa destronada, estendendo sua mão em direção a ela
como que numa despedida, mas também quase como uma súplica, um desejo
desesperado por ajuda ou qualquer mão amiga a quem possa se segurar.
Adeus,
Lênin! figura, sem dúvida alguma, nas listas dos melhores filmes da década
passada e é uma ótima pedida para discussões acaloradas, partindo de uma
premissa nem um pouco convencional e embalada pela ótima trilha sonora de Yann
Tiersen e ótimas atuações de Daniel Brühl e Katrin Sass.
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