terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ADEUS, LÊNIN! (Goodbye, Lenin! – Alemanha, 2002)

Direção: Wolfgang Becker
            Não são poucos os filmes alemães que figuram nas listas dos grandes da historiografia do cinema. Títulos como O Gabinete do Dr. Caligari, Metrópolis, M- o vampiro de Dusseldorf são frutos de terras germânicas, bem como O triunfo da vontade, propaganda mais que funcional do projeto nacional-socialista, obra-prima de Leni Riefenstahl e referência obrigatória para estudantes de cinema – em especial o documentário. Na última década foi possível perceber um renascimento do cinema alemão, chegando às telas ótimas películas como Corra, Lola, corra, A vida dos outros, Lugar nenhum na África, A onda e este maravilhoso Adeus, Lênin!.
            Passado no período da queda do muro de Berlim, o filme de Wolfgang Becker serve, não apenas como referência histórica para o país em questão, mas como tratado político sobre um momento em que as ideologias perdem espaço e sentido para a sociedade de uma forma geral.
            O protagonista Alexander Kerner cresceu na Alemanha Oriental e é testemunha ocular (e não apenas ocular, se lembrarmos da cena em que é agredido por policiais durante uma manifestação – como diria a mídia brasileira “em sua maioria pacífica”) das transformações pelas quais a região passou a partir da crise do socialismo soviético e o avanço do capitalismo, culminando na reunificação alemã. Entretanto sua mãe, Christiane, esteve em coma durante todo o processo e ignora as profundas mudanças ocorridas e, sabendo que ela tinha grande conexão com o regime político outrora vigente, Alex decide esconder dela a nova condição do país, evitando, assim, uma nova carga de estresse que possa levá-la a óbito.
            Carregado por um claro sentimento de nostalgia, Becker demonstra em seu filme como aquela sociedade, apesar das ditas vantagens provenientes do mercado capitalista, sente falta de seu antigo regime. Assim é interessante notar como um personagem se dá conta de que uma das consequências práticas dessa transformação seja o fato das pessoas serem levadas a revirar o lixo em uma das melhores tiradas da película.
            E se o avanço do capitalismo torna-se cada vez mais descontrolado, tal situação vai se tornando um conflito maior para Alex, que busca junto a conhecidos as mais divertidas formas de manter sua mãe em uma ilusão mais que idealizada, se levarmos em conta que o país que Alex apresenta a todos é aquele que sonhava, diferente do que existiu e do que existe – algo que é lembrado em cenas como o maravilhoso desfecho envolvendo um cartaz da Coca-Cola e as explicações dadas a Christiane sobre curioso ato migratório de ocidentais para o lado oriental. Todavia não posso deixar de mencionar a poética cena de Christiane olho a olho com personagem-título do filme – a estátua do líder da revolução russa destronada, estendendo sua mão em direção a ela como que numa despedida, mas também quase como uma súplica, um desejo desesperado por ajuda ou qualquer mão amiga a quem possa se segurar.
            Adeus, Lênin! figura, sem dúvida alguma, nas listas dos melhores filmes da década passada e é uma ótima pedida para discussões acaloradas, partindo de uma premissa nem um pouco convencional e embalada pela ótima trilha sonora de Yann Tiersen e ótimas atuações de Daniel Brühl e Katrin Sass. 

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