quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A CAÇA (Jagten – Dinamarca, 2012)

Direção: Thomas Vinterberg
           
Thomas Vinterberg é um diretor que, juntamente com outro cineasta dinamarquês – Lars Von Trier, idealizou um movimento cujo objetivo era estabelecer regras para a realização cinematográfica no intuito de resgatar a sétima arte de seu afogamento comercial. Esse movimento recebeu o nome de Dogma 95 e o primeiro filme a seguir religiosamente o chamado “voto de castidade” – nome dado ao conjunto de regras que os cineastas devem respeitar para receberem o Certificado Dogma 95 – foi uma obra de Vinterberg intitulada Festa de Família. Naquela ocasião, nos idos de 1998, o diretor abordou um assunto bem polêmico: a pedofilia. Quatorze anos depois – tendo o movimento Dogma 95 sofrido algumas adaptações naturais – Vinterberg retorna a essa temática no ótimo A Caça, filme que garantiu À Dinamarca sua décima indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
            Ambientado em uma comunidade dinamarquesa, somos apresentados a Lucas, um professor de jardim de infância, o qual – carinhoso com seus alunos – é respeitado por todos a sua volta, seja no trabalho ou nas questões pessoais, já que está envolvido em um difícil processo de separação, o que inclui seu desejo de estar próximo do filho.
            Todo esse respeito vem por água abaixo da noite para o dia quando uma aluna, motivada por sua imaginação inventiva e um ato impensado de um amigo de seu irmão adolescente, confunde seus sentimentos e acaba acusando seu professor de tê-la abusado sexualmente. Baseado, justamente, no fato de as crianças serem “incapazes de mentir”, as acusações sobre Lucas vão tomando maiores proporções, o que faz com que praticamente toda a comunidade se volte contra o professor, sendo que todas as alegações baseiam-se na torpe imaginação dos adultos.
            Com uma fotografia belissimamente estruturada, A Caça usa sua iluminação para desenhar as transformações pelas quais passa o protagonista, que, submerso nessa atmosfera, busca manter sua dignidade. Neste ponto é importante ressaltar a fantástica atuação de Mads Mikkelsen (Palma de Ouro em Cannes), cuja concepção de personagem é brilhante nessa busca incessante pela verdade – em alguns momentos Lucas lembra Joseph K, personagem kafkaniano que não tem noção do teor das acusações que caem sobre ele – e pela manutenção de sua sanidade física e mental. Dessa forma, se ao início da película Lucas aparece sempre sorridente, brincando com as crianças ou com seus amigos, no segundo ato o personagem já se apresenta de uma forma bem mais introspectiva, como que refletindo sobre a situação que o acometeu e calmo, na tentativa de manter sua postura junto ao filho adolescente – que diante das acusações que o pai sofre, desespera-se, culminando, no terceiro ato, com atitudes mais catárticas, fruto da forma como os que o rodeiam escolhem para atacá-lo e aos seres que ama. Todavia é no desfecho da narrativa que conhecemos Lucas como um homem de temperamento bem particular e suas atitudes com relação aos que outrora o atacavam demonstra isso - comportamento que muito me lembrou de outro filme indicado ao Oscar deste ano, Philomena.

            A caça é uma obra visceral sobre como uma simples inverdade pode jogar a vida de um indivíduo num vertiginoso abismo de onde é muito, mas muito difícil de sair, mesmo que as circunstâncias possam estar a seu favor. 

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