Direção:
Thomas Vinterberg
Thomas Vinterberg é
um diretor que, juntamente com outro cineasta dinamarquês – Lars Von Trier,
idealizou um movimento cujo objetivo era estabelecer regras para a realização
cinematográfica no intuito de resgatar a sétima arte de seu afogamento
comercial. Esse movimento recebeu o nome de Dogma 95 e o primeiro filme a
seguir religiosamente o chamado “voto de castidade” – nome dado ao conjunto de
regras que os cineastas devem respeitar para receberem o Certificado Dogma 95 –
foi uma obra de Vinterberg intitulada Festa
de Família. Naquela ocasião, nos idos de 1998, o diretor abordou um assunto
bem polêmico: a pedofilia. Quatorze anos depois – tendo o movimento Dogma 95 sofrido
algumas adaptações naturais – Vinterberg retorna a essa temática no ótimo A Caça, filme que garantiu À Dinamarca sua
décima indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Ambientado em uma comunidade dinamarquesa, somos
apresentados a Lucas, um professor de jardim de infância, o qual – carinhoso com
seus alunos – é respeitado por todos a sua volta, seja no trabalho ou nas
questões pessoais, já que está envolvido em um difícil processo de separação, o
que inclui seu desejo de estar próximo do filho.
Todo esse respeito vem por água abaixo da noite para o
dia quando uma aluna, motivada por sua imaginação inventiva e um ato impensado
de um amigo de seu irmão adolescente, confunde seus sentimentos e acaba
acusando seu professor de tê-la abusado sexualmente. Baseado, justamente, no
fato de as crianças serem “incapazes de mentir”, as acusações sobre Lucas vão
tomando maiores proporções, o que faz com que praticamente toda a comunidade se
volte contra o professor, sendo que todas as alegações baseiam-se na torpe
imaginação dos adultos.
Com uma fotografia belissimamente estruturada, A Caça usa sua iluminação para desenhar
as transformações pelas quais passa o protagonista, que, submerso nessa atmosfera,
busca manter sua dignidade. Neste ponto é importante ressaltar a fantástica
atuação de Mads Mikkelsen (Palma de Ouro em Cannes), cuja concepção de
personagem é brilhante nessa busca incessante pela verdade – em alguns momentos
Lucas lembra Joseph K, personagem kafkaniano que não tem noção do teor das
acusações que caem sobre ele – e pela manutenção de sua sanidade física e
mental. Dessa forma, se ao início da película Lucas aparece sempre sorridente,
brincando com as crianças ou com seus amigos, no segundo ato o personagem já se
apresenta de uma forma bem mais introspectiva, como que refletindo sobre a
situação que o acometeu e calmo, na tentativa de manter sua postura junto ao
filho adolescente – que diante das acusações que o pai sofre, desespera-se,
culminando, no terceiro ato, com atitudes mais catárticas, fruto da forma como
os que o rodeiam escolhem para atacá-lo e aos seres que ama. Todavia é no
desfecho da narrativa que conhecemos Lucas como um homem de temperamento bem
particular e suas atitudes com relação aos que outrora o atacavam demonstra
isso - comportamento que muito me lembrou de outro filme indicado ao Oscar
deste ano, Philomena.
A caça é uma
obra visceral sobre como uma simples inverdade pode jogar a vida de um
indivíduo num vertiginoso abismo de onde é muito, mas muito difícil de sair,
mesmo que as circunstâncias possam estar a seu favor.
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