Direção: Felix Van Groeningen
Alabama Monroe é
um filme belga sobre luto ao som de bluegrass. É curioso partir dessa premissa,
mas ao final do filme tal afirmação faz sentido e o espectador tem consciência
de ter passado por uma experiência dolorosa cujo desenrolar poderia inclinar-se
para o clichê. Poderia. Felix Van Groeningen elabora uma obra audiovisual
poderosa que garantiu à Bélgica sua sétima indicação ao Oscar de melhor filme
estrangeiro.
Segundo nossa amiga Wikipédia (é certo referir-se no
feminino?) o luto “é um conjunto de reações a uma perda significativa” e é
justamente através dessas reações que somos convidados a conhecer as
particularidades de Didier e Elise – ele, um cantor de bluegrass e ela uma
tatuadora que carrega em seu corpo um pouco de suas memórias amorosas. Esse
casal apaixonado é posto à prova quando a doença de sua única filha
desenrola-se rumo ao inevitável (embora o inevitável aqui deva ser encarado
como algo exageradamente precoce, tendo em vista que a menina conta apenas seis
anos de vida) acaba oferecendo aos protagonistas um novo sentido para a frase “até
que a morte os separe”.
Assim como nos filmes Anticristo
e Reencontrando a felicidade, Alabama Monroe explora as
particularidades de cada personagem e a forma como elas influenciam a reação
deles diante do luto e a escolha de Van Groeningen é acertada, pois nos
apresenta a essas particularidades em doses homeopáticas. Dessa forma a edição
nos leva e trás do passado para o presente várias vezes, sem preocupar-se com
ordem cronológica em uma estratégia que serve, muitas vezes, para preservar o
espectador da dura realidade que se apresenta.
Também é importante notar que são as distinções de cada
personagem que geram a principal discussão do filme, a qual envolve a questão
da fé. Enquanto Elise encara a morte como uma forma de redenção divina a qual
possibilita as mais inúmeras metáforas como a das estrelas, através da qual uma
pessoa se torna um corpo celeste no pós-morte, Didier possui uma visão mais direta
sobre o assunto, recusando-se a acreditar em algo que vá além do fato de que
após a morte, a pessoa está morta. São essas características que, fornecidas ao
espectador pouco a pouco, fornecem verossimilhança às atitudes do casal no que
me pareceu ser o grande acerto de Van Groeningen.
Outro acerto de Alabama
Monroe é o uso do bluegrass que, em nenhum momento, parece interferir de
forma prejudicial à narrativa, demonstrando a importância que a música tem para
o casal – repare na beleza do primeiro plano do filme e em como ele é resgatado
no meio da narrativa, revelando-se ser muito mais importante que parece.
Alabama Monroe é
realmente um filme sobre luto ao som de bluegrass, mas o luto deve ser encarado,
lembrando que a morte não é a única forma de se ter perdas significativas – o que
faz com que o filme tenha uma força ainda maior.