Admiro
muito a atual presidente da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas. Cheryl Boone Isaacs deu novo fôlego e charme aos
detalhes do evento mais aguardado da indústria cinematográfica
estadunidense como, por exemplo, a coletiva de imprensa realizada
para anunciar os indicados ao Oscar, que, desde que assumiu seu
posto, é muito mais agradável e justo, pois não ignora nenhuma
categoria como acontecia até bem pouco tempo atrás. Além disso,
tem uma presença fantástica diante das câmeras e, principalmente,
tem papel nuclear na tentativa de tornar a Academia mais atenta à
diversidade (o fato de ser mulher e negra em um país que ainda tem
boa parcela da população orgulhosa em se dizer machista e racista
já seria, por si só, admirável, entretanto Isaacs busca ser
atuante no sentido de tornar a Academia uma entidade mais abrangente
quanto à raça, gênero, origem nacional e ponto de vista). Diante
do seu compromisso, não seria de se admirar que viesse a público
para demonstrar sua insatisfação com o fato de, pelo segundo ano
consecutivo, as principais categorias do Oscar não contarem com a
presença de negros.
Tampouco
é de se admirar que, diante das declarações extremamente
relevantes de Isaacs, um bando de idiota – que devem ir ao cinema
apenas para assistir a filmes como “Transformers” e que nunca
devem ter ouvido falar em nomes como Lee (Spike Lee, Lee Daniels –
e Ang Lee, por que não citá-lo?), Poitier, ou Ava DuVernay –
afirmar que o Oscar está querendo criar um sistema de cotas para
negros a fim de laureá-los, não pela sua capacidade, mas por serem
negros. Aff...
Não
sejamos rasos, a discussão levantada por Isaacs é muito mais
profunda e atinge a microfísica do poder. A indústria
cinematográfica é uma estrutura extremamente segregadora e
funciona, deveras, como reflexo de uma sociedade machista, racista,
homofóbica. Relatório publicado pela Escola Annenberg de
Comunicação e Jornalismo, da Universidade do Sul da Califórnia
(USC), através da Iniciativa ‘Mídia, Diversidade & Mudança
Social’ demonstra que, dentre outras coisas:
1.
dos 30.835 personagens analisados, entre os 700 filmes, somente 30,2%
deles eram mulheres. Isso gera uma proporção de 2,3 homens a cada 1
mulher;
2.
em 2014, personagens brancos representaram 73,1% do total. Em
contrapartida, 4,9% eram de origem hispânica/latinos, 12,5% eram
negros, 5,3% eram asiáticos, 2,9% eram do Oriente Médio, menos de
1% eram índios americanos/nativos do Alasca/Havaí/Ilhas do
Pacífico, e 1,2% eram de outras raças e/ou etnias. Os números são
os mesmos entre todo o período de 2007 a 2014;
3.
entre os 4.610 personagens dos 100 maiores filmes de 2014, apenas 19
eram lésbicas, gays ou bissexuais. Nenhuma personagem transgênero
foi representada. 10 foram classificados como gays, 4 eram lésbicas
e 5 bissexuais.
(FONTE:
http://prosalivre.com/novo-relatorio-comprova-o-que-ja-sabiamos-falta-diversidade-em-hollywood/)
Mesmo
diante de fatos como o supracitado, profissionais da Sétima Arte
como Will Smith ("Um Homem Entre Gigantes"), Idris Elba
("Beasts of No Nation") e Samuel L. Jackson ("Os Oito
Odiados") se destacaram nesta temporada e não esqueçamos do
maravilhoso “Selma: a luta pela igualdade” que foi esnobado pelo
Oscar na temporada passada, ficando com um Oscar de Canção Original
que serviu de consolo para uma obra que merecia muito mais atenção.
Todos os trabalhos que citei são competentes e não necessitam de
cotas para alcançar prêmios (e eu falo aqui da premiação como o
bem simbólico que ele representa tanto no plano afetivo quanto no
mercadológico) mesmo que eles sejam irrelevantes para muitos.
Enquanto a indústria cinematográfica, desde a sua produção,
continuar fechada para a diversidade fica difícil colher diversidade
na hora de apresentar os indicados aos prêmios mais importantes do
cinema. Daí a importância de termos figuras como Cheryl Boone
Isaacs (Mulher, Negra e Presidente da Academia) dando declarações
como a feita após o anúncio dos indicados ao Oscar 2016 –
aumenta, ainda mais, a minha admiração por ela. Em tempo, espero
que a ausência de negros nas principais categorias do Oscar não
seja esquecida pelo apresentador deste ano Chris Rock (Sim!!! O
criador de “Everybody hates Chris”) no tradicional discurso de
abertura da cerimônia.
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