Direção: Matt Reeves
A
guerra ainda é um meio eficaz de se estudar a natureza humana –
infelizmente; não à toa os cinemas e as livrarias vivem abarrotados
de obras do gênero. Ela é uma das atividades em que mais se
evidenciam as relações de poder, justamente por terem, na maioria
das vezes, uma motivação banal que a justifica (e quando falo em
justificar quero expor o quanto aceitamos, enquanto sociedade, os
discursos de guerra – até mesmo os metafóricos). Finalizando a
trilogia que retomou a ficção distópica de 1968 (estrelada por
Charlton Heston), “Planeta dos Macacos: a guerra” consolida-se
como uma produção de seu tempo não só pela tecnologia empregada,
mas também pela narrativa que apresenta.
Iniciando
com um resumo do que se passou nos filmes anteriores, a direção não
gasta tempo para introduções e joga o espectador, logo de cara, em
uma cena de batalha entre humanos e macacos – elemento, este, que
não é recorrente no decorrer da história e que demonstra o quanto
a sombra da guerra se impõe através do discurso e da ameaça muito
mais que em ações armadas (ideia diante da qual a humanidade se viu
em tantos anos de Guerra Fria). Dito isso, percebe-se que não há
nenhuma incoerência no título do filme. Outra decisão acertada do
roteiro encontra-se na ausência de nomes para os personagens
humanos, cuja alcunha limita-se a títulos ou apelidos vagos como
“Coronel” ou “Preacher” (pregador / propagador de doutrina),
enquanto os macacos são identificados pelos seus nomes (Cesar,
Maurice, Cornelius), algo que oferece humanidade aos símios. O fator
humanidade, no entanto, não seria tão eficaz caso o design de
produção e os efeitos especiais não fossem tão bem realizados,
possibilitando a utilização de planos em close dos personagens sem
acusar o tratamento digital dado às imagens – um espetáculo por
si só dentro de toda a produção.
“Planeta
dos Macacos: a guerra” faz referências a outros filmes do gênero,
em especial “Appocalipse Now” (repare nos helicópteros chegando
e na figura de Woody Harrelson, praticamente um Coronel Kurtz
entregue à loucura). Além disso, é quase impossível não perceber
as indiretas à política atual dos Estados Unidos, que aposta na
construção de muros, expondo uma total dificuldade de comunicação
– carência que indica a perda de humanidade entre os homens; todas
essas referências estão presentes. Dessa forma, a produção se
insere na atualidade – é impossível imaginá-la sem o aparato
tecnológico disponível hoje em dia e sem as bases no discurso
político atual (algo que era extremamente forte nos filmes
originais).
Não
poderia terminar essa resenha crítica sem ressaltar a força da
trilha sonora de Michael Giacchino e a beleza estética do plano que
encerra o filme e que remete ao cinema clássico.
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