Na última terça-feira, fui surpreendido quando, ao final do anúncio dos indicados ao Oscar 2017, o filme "La La Land" totalizou quatorze indicações ao maior prêmio da indústria cinematográfica. A marca representa um feito que não se repetia há vinte anos, quando "Titanic" igualou o recorde de indicações de "A malvada". Igualar o recorde de indicações ao Oscar oferece um ar de respeito ao filme – um respeito que, ao assistir o musical de Damien Chazelle, não se materializou no meu íntimo enquanto espectador e amante da sétima arte. "La La Land", para mim, causa, muito mais, um frenesi que um respeito; a obra toca naquilo que Hollywood precisa para se afirmar em tempos de crise identitária: seu ego (o que não deve ser entendido como algo, necessariamente, ruim).
Desde o seu surgimento, o cinema convive com profecias que afirmam seu desaparecimento frente a uma nova tecnologia ou linguagem; até hoje, as profecias não se concretizaram, uma vez que o cinema soube se reinventar, mesmo que, para isso, tenha voltado seu olhar para o passado, retomando características que tenham o marcado em determinado momento de sua história. O surgimento da linguagem narrativa clássica, a entrada do som, das cores, a concorrência da televisão e do videocassete, DVD, Blu-Ray, o advento da tecnologia 3D são algumas das crises que posso listar. Com a emergência do streaming não seria diferente e o cinema, mais uma vez, se vê em crise de identidade e, como todo indivíduo em tal condição, carece de massagens no ego – um estímulo que comprove que sua presença ainda é necessária e que ainda pode sentir-se amado. Basta olhar para a história recente da Academia para perceber que a sétima arte é um tema bem recebido por Hollywood; filmes como "Birdman" (9 indicações ao Oscar – venceu quatro), "Argo" (7 indicações ao Oscar – venceu três) e "O artista" (10 indicações ao Oscar – venceu seis) são obras vencedoras da categoria máxima do Oscar e poderíamos, ainda, acrescentar a indicação de "A invenção de Hugo Cabret" nesta lista. Não há surpresa, portanto, que "La La Land" cause tanta excitação entre críticos.
Não se trata de um filme ruim, trata-se de um filme que, na minha humilde opinião, promete muito e nunca cumpre. Um filme que começa com uma cartela indicando que foi filmado em Cinemascope, algo que remete a filmes grandiosos como "O manto sagrado" (filme que inaugurou a técnica) e "A noviça rebelde" (para citar um grande musical), mas com uma estrutura narrativa batida (dividida em estações do ano) e sem nenhum momento realmente marcante ou que problematize algo realmente relevante (confesso que existe uma problematização bem sensível e bem contemporânea na última sequência do filme). La La Land é um filme sobre sonhos e não existiria lugar mais adequado para essa narrativa que Hollywood, a fábrica de sonhos. Chazelle, entretanto, idealiza demais essa estrutura e, mesmo acompanhando todos os esforços dos protagonistas, no fundo sabemos o que revelar-se-á no final e saímos do cinema com a sensação de mais do mesmo.
Por tal razão, a Academia, ao confrontar "La La Land" com "A chegada" e "Manchester à beira mar" (filmes aos quais eu assisti) ou com "Moonlight: sob a luz do luar" (cujo trailer já vem à tona como um soco no estômago) se coloca em uma encruzilhada entre problematizar questões ou premiar o “mais do mesmo”, algo que seria curioso após as investidas da presidente da AMPAS (Academy of Motion Picture Arts and Sciences), Cheryl Boone Isaacs, em trazer mais diversidade à premiação – algo, parcialmente, alcançado no tocante às indicações, mas que pode parecer inútil no abrir dos envelopes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário