quarta-feira, 9 de abril de 2014

UM SORRISO DOMINICAL

            Lembro-me de minha família. Dos domingos sentados à mesa. Do almoço servido quentinho em uma esquina tijucana. Entretanto...
            Não eram os almoços de domingo os verdadeiros laços. Os almoços de domingo tinham um quê de burocrático – algo de tradicional cuja realização pairava entre o obrigatório e o racional. Os sorrisos dominicais limitavam-se ao bater ponto no domingo de folga.
            Bom mesmo eram os domingos sob a maresia da Região dos Lagos. Aqueles domingos eram incessantes, sem intervalos semanais. Acordar pela manhã ao som da cozinha ganhando vida. Flanar pelos cantos da casa sentindo os sorrisos cheios de liberdade que desembocavam nas tardes na praia, culminando em um pôr-do-sol inviolável. As viagens à Região dos Lagos eram os verdadeiros laços.
            Hoje, ainda inebriado pelas lembranças, quando acordo em uma esquina de Copacabana, finjo ser o som da cozinha as conversas de outrora. Fecho os olhos e imagino pelo menos um sorriso dominical que sirva de elixir para mais um dia.
Meu sorriso dominical tornou-se um laço maquiado com o pó da tradição e a sombra da burocracia.
Mario Chris

Rio de Janeiro, 09/04/2014

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