Terminada a 86ª Cerimônia da Academia, o saldo da noite respeitou o que era
esperado, dividindo os prêmios entre os grandes favoritos da noite 12 anos de escravidão e Gravidade – sendo que este ficou com 7 prêmios, em sua maioria técnicos, enquanto que o filme de McQueen recebeu 3
prêmios de primeiro escalão, incluindo o de Melhor Filme. Com relação as minhas
expectativas, elas também foram atendidas, pois apesar de meu favorito Ela ter saído apenas com o prêmio de
Melhor Roteiro Original, os filmes supracitados eram, respectivamente, meus
segundo e terceiro votos. Só para relembrar o que comentei no meu post
anterior, meus votos na categoria melhor filme seriam: Ela, 12 anos de escravidão, Gravidade, O lobo de Wall Street, Clube de
Compras Dallas, Nebraska, Trapaça, Capitão Phillips e Philomena. Interessante notar que dos nove finalistas na categoria
principal, cinco ficaram sem nenhum prêmio, o que não deixa de ser curioso, já
que a academia, há cinco anos, aumentou o número de finalistas a fim de poder
agraciar filmes que não teriam chances de indicação com o limite de cinco
finalistas. Fica a sensação de que, apesar de conseguirem a visibilidade de se
tornarem um Academy Award Nominee, esses filmes ainda não têm força para se
tornarem Academy Award Winner – e de fato não estamos falando de filmes ruins,
se lembrarmos que um deles, Trapaça,
era dado como favorito, por ser um dos recordistas de indicação (acabou sendo
um dos maiores derrotados de todos os tempos). Completam a lista de derrotados:
O lobo de Wall Street, Nebraska, Capitão Phillips e Philomena.
Dentre os
vencedores, cada um ficou com os prêmios que já aguardavam: Clube de Compras Dallas ganhou as
categorias de melhor maquiagem e penteado, melhor ator coadjuvante e melhor
ator; Ela recebeu o prêmio de melhor
roteiro original, Gravidade (campeão
em número de prêmios) subiu ao palco para receber melhor edição de som, melhor som,
efeitos visuais, trilha sonora, fotografia, edição e direção, já 12 anos de escravidão recebeu melhor
roteiro adaptado, atriz coadjuvante e melhor filme.
Apesar de não
ter acompanhado os lobbys em torno dos indicados, logo no tapete vermelho dava
para perceber que Lupita Nyong’o ganhou os holofotes e, de fato, ela estava
belíssima em seu vestido Prada – ali passei a perceber que o prêmio de melhor
atriz coadjuvante poderia tropeçar (não resisto à piada) das mãos de Jennifer
Lawrence como de fato ocorreu. Justiça foi feita, o trabalho de Lupita é
fantástico e ela estrela a cena mais comovente do filme de McQueen. Quanto aos
lobbys negativos, aquele feito contra a atriz Cate Blanchett não surtiu efeito –
relacioná-la ao nome de Woody Allen, querendo desmerecê-la por estar “envolvida”
profissionalmente com um homem acusado de pedofilia, aumenta ainda mais o
absurdo que é essa acusação descabida de Mia Farrow. Assim, Blanchett recebeu
seu segundo merecidíssimo Oscar, desta vez de Melhor Atriz pelo também ótimo Blue Jasmine. Já o outro lobby negativo
funcionou – O lobo de Wall Street,
que não agradou parte da crítica por parecer fazer justiça a um estilo de vida
reprovável, um absurdo por demonstrar que tais críticos não sabem o significado
de ironia, acabou saindo de mãos abanando – enfim, já tinha dissertado sobre
como seria difícil o filme de Scorsese ganhar algum prêmio (tamanha era a
qualidade dos principais indicados).
Na categoria
de Melhor Filme Estrangeiro, a Itália saiu da fila de quinze anos com uma obra
muito poética de Paolo Sorrentino. Há muito tempo que não vejo uma seleção de
filmes estrangeiros tão boa – faltou assistir ao indicado palestino. Todavia
qualquer um dos outros que ganhasse faria jus ao prêmio. A grande beleza é um filme de qualidade impecável como há muito não
vejo, cinema italiano em estado puro – sem faltar referências ao mestre
Felinni. Interessante que, além da referência felliniana no filme italiano,
tivemos a referência a Chris Marker no filme do Cambodja. Vale a pena conferir Alabama Monroe, A caça e A imagem que falta.
Os dois
prêmios mais importantes: direção e filme acabou sendo dividido, conforme
esperado, pelos filmes Gravidade e 12 anos de escravidão. O prêmio de
melhor direção coroou o trabalho de Alfonso Cuarón, que, apesar de alternar de gênero,
manteve sua pegada e sua qualidade em nos agraciar com momentos de tensão e em
estudos de personagem bem elaborados – desde E sua mãe também, Cuarón flerta com a Academia, sem nunca ter
recebido um prêmio (este ano saiu com dois, já que também foi responsável pela
edição do filme). Já Steve McQueen subiu ao palco para receber o prêmio mais
cobiçado da noite. 12 anos de
escravidão é um filme com pegada crítica que demonstra ser bem atual, não
apenas porque ainda testemunhamos cenas de escravidão propriamente dita, mas
pelo fato de que muitas vezes, apesar de sermos livres, sentimo-nos presos a um
sistema que nos escraviza. Enfim, o mais importante é o fato de que 12 anos não trabalha com os típicos
estereótipos de filmes de escravidão – não temos o negro caricato, engraçado
como costumamos observar, por exemplo, nas novelas globais, ou o americano herói
que, travestido de messias, salva todo mundo (reparem que o personagem de Brad
Pitt é canadense). Filmes sobre esse tema não podem – não devem – abrir espaço
para escape emocional e McQueen conseguiu fazer isso e, de fato, incomoda
perceber o que nós, brancos, causamos com nossos semelhantes. Não à toa que
livro e filme passaram a ser obrigatórios nas escolas públicas
norte-americanas.
De fato,
Sobre a
cerimônia, considerei interessante o fato de Ellen de Generis ter quebrado a
formalidade da festa com seus selfies e com uma rodada de pizza aos convidados.
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