domingo, 20 de março de 2011

O PARQUE DOS DINOSSAUROS (Jurassic Park - EUA, 1993)

Direção: Steven Spielberg

Quando tinha sete anos de idade, assisti no cinema a um filme que me marcou para o resto da vida – não apenas pela história recheada de aventura cujo desenvolvimento me prendeu do início ao fim, mas também pela maravilhosa trilha sonora que acompanhava a ação dos personagens. O título desse filme era Aladdin e meu pai me levara ao cinema para assisti-lo em uma época que os cinemas de rua ainda dominavam as esquinas da cidade e entrar em um shopping para desfrutar de tal entretenimento era algo improvável – quase surreal. Ao fim da sessão, ao passar pelos corredores do cinema fiquei tão extasiado pelos cartazes espalhados pelo caminho quanto pelo filme que acabara de assistir – eram parte da promoção do breve lançamento de Parque dos Dinossauros – Jurassic Park. Entretanto, apesar de todos os meus esforços para tentar convencer alguém de me levar ao cinema para assistir a esse filme, minha família acabou achando que eu era novo demais para vê-lo e acabei perdendo a chance de assisti-lo na telona (algo que me dói até hoje, mas ainda tenho esperanças de que um dia relancem a película restaurada e remasterizada – quem sabe para comemorar os vinte anos do lançamento). A verdade é que tive que esperar o lançamento em VHS, algo que na época demorava muito, e uma alma caridosa que se disponibilizasse para alugá-lo – o que aconteceu pelas mãos do meu tio que apareceu em casa com o filme em mãos para meu delírio. Àquela altura, Parque dos Dinossauros já tinha alcançado o status de maior bilheteria da história do cinema, posição que seria mantida por cinco anos, quando foi ultrapassado pelo Titanic de James Cameron.
O ano de 1993 foi um ano muito ambicioso para Steven Spielberg, pois, além de abraçar o projeto jurássico, causou comoção mundial ao mergulhar na triste realidade do holocausto com seu A Lista de Schindler. Spielberg é um diretor de extrema competência, variando sua obra entre mega blockbusters de verão, (um gênero criado pelo próprio com seu Tubarão) recheados de aventura e efeitos especiais, e dramas históricos tais quais Schindler e o recente Munique. A questão é que, mesmo os blockbusters dirigidos por ele, são filmes que rendem discussões profundas sobre técnica, estilo e mensagem – com Parque dos Dinossauros não seria diferente.
A partir de pesquisas científicas que indicaram ser capaz a clonagem de seres extintos através de amostras de DNA contidas em mosquitos fossilizados, John Hammond (interpretado por Richard Attenborough) financia um parque onde as principais atrações são dinossauros recriados geneticamente em laboratório (três anos antes do nascimento da ovelha Dolly). Entretanto, a fim de poder abrir o parque ao público, Hammond precisa da aprovação de especialistas ligados ao estudo de paleontologia, bem como de um representante dos financiadores interessados em investir na atração. Para isso, ele convida os cientistas Allan Grant (Sam Neil), Ellie Sattler (Laura Dern), o matemático Iam Malcom (Jeef Goldblum) e o advogado Donald Gennaro (Martin Ferrero), os quais abrem as discussões éticas sobre a criação da vida em laboratório e o risco de unir espécies separadas por milhões de anos de evolução. Posteriormente eles se juntam aos netos de Hammond, os jovens Lex (Ariana Richards) e Tim (Joseph Mazzello) para um passeio teste pelo parque – algo que irá culminar com um ato de sabotagem cuja conseqüência será a liberação dos monstruosos dinossauros, colocando-os no caminho dos personagens em suas tentativas de fugir com vida daquele lugar.
Mestre em gerar expectativa, entrelaçando-a com ação e aventura, Spielberg não entrega o prato principal sem antes oferecer uma boa entrada. Assim como fez em Tubarão, os grandes vilões de Jurassic Park só surgem após uma hora de projeção e, se neste filme ele não tem meios de gerar expectativa com as vítimas sendo arrastadas e sugadas pelo mar por um vilão invisível, o meio encontrado foi a apresentação de outros dinossauros – sejam herbívoros ou raptores saindo do ovo – para o deleite dos espectadores. A partir de então, o suspense toma conta da história e uma série de seqüências antológicas pode ser apreciada pelos amantes da sétima arte. A começar pela cena em que o temido Tiranossauro destrói as cercas que o separam dos visitantes do parque – o uso do ponto de vista daqueles que estão no carro enquanto vemos o tamanho da ameaça que passa a sua frente já é de gelar a espinha. E logo adiante o belo plano da jovem Lex aterrorizada com uma lanterna acesa em mãos sendo espiada pelo olhar (digamos) assassino do gigantesco predador – vale reparar também no plano em que Tim fecha a porta aberta do carro e percebemos a arcada dentária do T. Rex.
Outro vilão muito explorado pelo filme é o Raptor (ou Velociraptor) cuja natureza instintiva faz com que sempre cace em bando e, portanto, nunca aparece em cena sozinho (ok, em um momento específico do filme um deles age sozinho). São os raptores que protagonizam (ou antagonizam) a cena mais marcante do filme na minha humilde opinião – falem o que falar, até hoje sinto pavor daquelas duas crianças dividindo o espaço de uma cozinha com dois raptores. A seqüência da cozinha tinha uma questão de identificação muito forte para mim, pois a ameaça se dava a personagens da minha faixa etária e a decupagem realizada te coloca sempre em dúvida sobre as chances de esses personagens conseguirem escapar. Inclusive considero que essa cena foi revisitada em referência pelo próprio Spielberg em seu Guerra dos Mundos.  
Com ações bem conexas ao longo do roteiro, aprimoradas com efeitos especiais que não deixam a desejar até hoje e realçadas por uma trilha belíssima (é redundante dizer isso sobre John Williams) transformam Parque dos Dinossauros em um clássico desde o seu surgimento. Até hoje detém em minha vida pessoal a marca de ser o filme que mais vezes assisti, totalizando vinte e duas vezes e meia (uma vez peguei o filme pela metade) e, mesmo sem tê-lo visto durante anos, assisti-lo novamente em 2011 só me fez ter certeza do que digo neste texto.

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