Após a madrugada do último dia vinte e sete nada se alterou em minha vida. Acordei no dia seguinte e o cotidiano manteve-se intacto, pois, afinal, a maior festa da indústria cinematográfica nunca foi e, espero, nunca será capaz de influenciar o desenvolvimento dos verdadeiros artistas do cinema – cujo comprometimento único é com a sétima arte – e, tampouco, a admiração que tenho pelos seus trabalhos. Entretanto, não se pode negar que o Oscar tem sua importância, visto o status que possui junto aos grandes estúdios e produtores. As escolhas realizadas anualmente pelos membros da Academia têm – ou deveriam ter – no mínimo a intenção de incentivar os trabalhos realizados em cima da linguagem cinematográfica em suas diversas manifestações, além de celebrar os avanços artísticos presentes naqueles que, consideram-se os melhores filmes do ano. No último domingo a Academia, de forma extremamente equivocada, optou pelo antiquado, indo de encontro com todas as tentativas de renovação, as quais, dizem, estão sendo buscadas nos últimos anos. Mesmo assim, o discurso proferido na cerimônia de 2011, referente aos filmes do ano anterior, foi o do conservadorismo.
Ao final de 2010 o filme A Rede Social de David Fincher colecionava prêmios da crítica cinematográfica, alcançando seu auge com os prêmios conquistados no Globo de Ouro. De lá para cá, um movimento muito curioso inverteu as previsões em favor de O Discurso do rei de Tom Hooper. Os prêmios de sindicatos de diretores e produtores, além do Oscar britânico (Bafta) laurearam o filme sobre o rei gago. A explicação mais convincente para esse fato está no lobby que teria sido realizado pela produção do filme inglês junto à comunidade de produtores hollywoodianos e cujo resultado seria visto nas doze indicações conquistadas pelo longa e nos quatro prêmios recebidos. É fácil entender que em situações que exigem uma eleição, buscar votos é um movimento natural daqueles que desejam a vitória. Entretanto era de se esperar que os votantes usassem o bom senso em detrimento da simpatia no momento de realizarem suas escolhas.
O Discurso do rei é um filme simpático cuja sustentação se dá graças às atuações de seu elenco – formado por atores muito talentosos, por sinal. O roteiro possui falhas e a direção se constitui totalmente equivocada. Mais que isso, o drama histórico destoa completamente do discurso que sobrevoou o Oscar do ano passado. Se uma das justificativas dadas para a vitória de Guerra ao Terror era de que o filme trazia discussões pertinentes sobre o momento histórico-social, porque A Rede Social foi preterido este ano? E mesmo que o filme de David Fincher não fosse o favorito dos votantes: o que dizer da sensibilidade de Toy Story 3, dos mergulhos psicológicos de Cisne Negro e A Origem? A simpatia do filme de Hooper o faz um filme razoável, muito longe de ser o melhor filme do ano, principalmente se levarmos em consideração seus concorrentes mais pesados. Coube como consolação, a segunda parte do texto proferido por Steven Spielberg antes de anunciar os indicados a melhor filme, o qual dizia que os perdedores daquela noite juntar-se-iam ao rol de filmes como Cidadão Kane e Touro Indomável.
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