Direção: Milos Forman
Para mim não há o menor exagero em afirmar que assistir ao filme Amadeus é ter consciência plena de que o cinema é capaz de fornecer obras de arte. Dentre mais de oitenta filmes vencedores do prêmio da Academia na categoria de melhor filme, este é meu favorito. Não apenas por tudo que salta aos olhos de quem o assiste, mas – principalmente – por tudo a que faz referência. Milos Forman foi extremamente feliz em seu projeto, reunindo uma direção belíssima com atuações inspiradíssimas e uma máquina de produção completa (fotografia, figurinos, direção de arte, maquiagem... não há do que reclamar). O diretor tcheco conseguiu, dessa forma, o seu segundo Oscar, menos de dez anos depois de conquistar o primeiro pelo, também belo, Um Estranho no Ninho.
Muito mais que uma cinebiografia, Amadeus é quase uma alegoria sobre questões que residem no comportamento do homem, tais quais a inveja e o preconceito. A vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart servem perfeitamente para tal: um jovem músico cujo dote musical manifestava-se desde os cinco anos, quando começou a compor suas primeiras obras. A partir da genialidade do personagem que dá título ao filme e de todas as lendas e mitos que existem em torno da sua figura, Forman nos apresenta a figura de Antonio Salieri, músico italiano que residiu em Viena, onde tornou-se compositor oficial do imperador austríaco.
Salieri é a força motora de Amadeus. Logo na primeira cena, assistimos à sua tentativa de suicídio em meio a uma confissão de assassinato: ele se acusa, muito mais que confessa ter matado Mozart. Depois, diante de um padre, Salieri conta a história de sua relação com Amadeus, sua admiração pelo trabalho do jovem compositor e sua repulsa pelo estilo de vida do mesmo. Daí surge o grande questionamento do personagem: como seria possível um ser tão repulsivo ter a dádiva divina de compor as mais belas músicas já ouvidas?
A aproximação dos dois músicos acaba por demonstrar para Salieri sua inferioridade em relação ao jovem contemporâneo, aumentando – cada vez mais – sua inveja, uma vez que, musicalmente, Mozart era tudo que ele gostaria de ser. Esse embate Salieri-Mozart é responsável pelos grandes momentos da narrativa, graças às belas atuações da dupla protagonista formada por F. Murray Abraham (Oscar de melhor ator pelo papel de Salieri e marcante em seus olhares analíticos de admiração e reprovação) e Tom Hulce (indicado pelo papel de Mozart e impagável com sua risada icônica). Como não se lembrar do primeiro encontro dos dois no palácio, quando Salieri tenta impressionar o visitante com uma marchinha que logo será “melhorada” por Mozart ou a belíssima cena em que os dois compositores “unem forças” para compor um réquiem?
Entretanto considero que o maior feito desta obra é o fato de ter se apropriado livremente e poeticamente da biografia de dois músicos da segunda metade do século XVIII, enfatizando toda a mitologia que existe em torno da morte prematura de Mozart (alguns defendem que ele teria sido assassinado) e utilizando a loucura como fuga poética para a veracidade dos fatos narrados por Salieri. Sem dúvida alguma, Amadeus tem lugar eterno na história do cinema, fazendo jus à eternidade conquistada pela obra daquele que dá nome ao filme.
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