domingo, 8 de março de 2009

O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford – EUA; 2007)


Direção: Andrew Dominik

A História nos mostra como são usuais os casos de assassinatos envolvendo ídolos e seus fãs. Gandhi e John Lennon são exemplos recentes, ocorridos na segunda metade do século passado. Entretanto, conforme nos apresenta o filme de Dominik, esses episódios não são tão recentes. No final do século XIX, o jovem Robert Ford – um apaixonado pelas aventuras dos irmãos James – acaba por assassinar seu ídolo, Jesse James, de forma covarde, despertando na população local as mais diversas reações, dentre as quais o repúdio.

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford não precisa ter sua premissa explicada por razões óbvias, o título do filme é, praticamente, a sinopse do mesmo. Mas o roteiro de Andrew Dominik (que assina a direção) explora muito mais que um simples ato criminoso. A narrativa vai muito além das ações físicas, explorando de forma intensa a ação psicológica da trama – o que depreende a necessidade de um trabalho muito mais cuidadoso na montagem dos personagens. E não podemos negar que as opções artísticas feitas pela dupla principal Brad Pitt (James) e Casey Affleck (Ford) são excelentes, resultando em atuações completas e que impressionam em cada olhar – reparem no olhar dos dois na cena capital e, não posso deixar de comentar a voz que Affleck impõe a Robert Ford. O elenco é extremamente correto nos mínimos detalhes e faço destaque a sempre maravilhosa Mary-Louise Parker (uma das poucas mulheres em um elenco basicamente masculino). O que me lembra que estamos dissertando sobre um filme de gênero extremamente masculino. Os antigos filmes de bang bang sempre soaram bem masculinos, com mocinhos e vilões que não se intimidavam em mostrar sua masculinidade andando a cavalo, brigando em bares ou empunhando um revólver. Os tempos mudaram e O Assassinato de Jesse James surge após um bom tempo sem grandes filmes de western para mostrar que a masculinidade não passa apenas por atos, mas também por pensamentos (não é a toa que os tiros não são freqüentes na película, aparecendo apenas quando necessários).

Estamos diante de um jovem (Ford) que nem chegou aos vinte anos e que deseja fazer algo de grandioso – o que, de certa forma, é inerente à juventude (todos queremos fazer algo para sermos lembrados – vide o Aquiles que o próprio Brad Pitt interpreta no equivocado Troia). Sua fama acaba vindo através de um ato de traição e covardia, uma vez que acaba assassinando seu ídolo e companheiro de bando. E, aqui, Dominik acerta mais uma vez em optar por demonstrar a tensão, não somente do desenvolvimento que leva ao crime, mas as consequências as quais o crime desperta. Assim, a opção de não finalizar a narrativa imediatamente após o assassinato do título é a ideal para explorar os mistérios que perseguem a psique do jovem Bob – as verdades que não conhecemos quando somos muito imaturos para a vida.

Com uma fotografia belíssima e um ritmo desacelerado, acompanhamos essa tensão psicológica que envolve a dupla que dá nome ao filme. O ato final é surpreendente – não pelos acontecimentos que já são conhecidos desde o momento em que pensamos “hoje, vou assistir O Assassinato de Jesse James”. As conversas – escassas durante todo o desenvolvimento do filme – se tornam um jogo entre James e Ford, os olhares e as ações também, levando o espectador a pensar: “até que ponto Jesse James sabia que Robert Ford o mataria?” e não consigo parar de pensar num inverso – “até que ponto Ford sabia que iria matar James?“.

Sem dúvida, O Assassinato de Jesse James foi um filme subestimado pelas premiações de cinema de 2008. Suas duas indicações ao Oscar não fazem jus a beleza ímpar desse western psicológico que conta com uma das melhores atuações da carreira de Brad Pitt e com o talento de Cassey Afleck (que, cada vez mais, me convence de ser mais talentoso que seu irmão Ben).

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