Somos sujeitos sociais construídos através de uma lógica cultural anterior a nós mesmos, que nos impõe um conjunto de relações cuja constituição interpola a nossa condição de indivíduo, lançando-nos a hierarquizar nossas decisões – privilegiando a exterioridade e a vergonha em detrimento da interioridade e culpa. As circunstâncias da vida social, ao longo do desenvolvimento de si, impedem um mergulho profundo no que diz respeito à autoconsciência e à descoberta individual – é como ser anti-social, anormal, considerado autista. Até que ponto esse desconhecimento imposto nos é prejudicial? Até que ponto abrir mão do que nos é dado pela sociedade pode nos libertar? Libertar-se da sociedade, de certa forma, parece ser aprisionar-se em si mesmo e, ao que parece, saber dosar essa dicotomia sujeito-indivíduo é o caminho certo para a auto-realização. A verdadeira felicidade [que preenche o indivíduo tal como ele é] só é possível quando partilhada [com aqueles que nos preenchem como sujeito].
Em 1990, logo após sua graduação, o jovem Christopher McCandless deixou para trás tudo que conhecia – incluindo família, economias e amigos – em busca de sua grande aventura rumo ao Alasca, onde pretendia viver junto à natureza (leia-se descobrir a si mesmo). Assumindo o pseudônimo de Alexander Supertramp – uma clara evidência de que o rapaz buscava fugir, não apenas de sua condição de sujeito construída ideologicamente, mas também de seu passado familiar – Chris viaja pelos EUA conhecendo diferentes personalidades com as quais aprende novas visões da vida, além de semear seu conhecimento durante o percurso. Entretanto, o projeto de vida de Chris, somado a sua inexperiência juvenil, acaba por cegar o rapaz, impedindo que ele reflita sobre as suas ações e as conseqüências que elas tomaram – na verdade, a reflexão só surge, de fato, quando é tarde demais. Durante dois anos, Chris buscou na benevolência da natureza, aquilo que ele não encontrou em sua vida – em meio às turbulências familiares e obrigações sociais. Ironicamente, a própria natureza impôs ao jovem tal reflexão, através de seu domínio sobre a natureza humana (não posso deixar de reparar a forma como o título do filme, nos créditos iniciais, ganha forma sobre a pequena figura do jovem caminhando pelo Alasca, dominando o plano de forma imponente).
Sean Penn esperou dez anos para poder levar a cabo esse projeto, baseado no livro de Jon Krakauer. O diretor, que também assina o roteiro, procurou esperar o tempo ideal para a realização do longa, aguardando o momento em que a família do rapaz ficaria a vontade em ver a história do filho nas telas de cinema. Inicialmente, o projeto contaria com a presença de Leonardo Di Caprio no papel principal. Felizmente, os anos de espera, impossibilitaram sua utilização na trama e o ator Emile Hirsch foi o selecionado para tal (e que o faz de forma completa, tanto na transformação que o personagem sofre física e psicologicamente, quanto na consciência que o rapaz tem dessas mudanças). A trilha é assinada pelo vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, e assume um papel fundamental na narrativa, no que posso dizer ser uma das melhores trilhas dos últimos tempos. As belas atuações daqueles que surgem como coadjuvantes da história nos levam a reparar a forma como todos se identificam com os atos e decisões do rapaz – aliás quem não se identifica?
Um comentário:
Ótima Resenha Thiago! PArtiu Alaska? Se quiser eu tenho o livro do John Krakauer!
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